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sábado, 29 de março de 2014

AOS GREGOS DE NOVO: NIETZSCHE, HAVELOCK, HEIDEGGER, ARISTÓTELES E PLATÃO

Um dos meus planos desde o ano passado era estudar Grego neste ano...e tenho milhares de motivos, intuições e desafios em mente ao pensar e ao desejar isto...mas como pelo visto não vai rolar, pois surgiram certos impedimentos a alguns integrantes de um grupo de grego em São Leopoldo...vou me dedicar na solidão dos meus botões a estudar mais os gregos...começando pelos Pré-Socráticos - sem prejuízo das aulas e mesmo com alguns rebatimentos e parcerias com as demais disciplinas científicas sobre o surgimento de certas interrogações e investigações naturais, geométricas e teóricas...tanto para a física, quanto para a química, a matemática e a biologia isso é um prato cheio...e em uma pequena lição sobre os filósofos gregos antigos já deu para ver os olhos brilhando de alguns alunos que tem predileção por estas matérias...

Mas tem mais, ainda um dia estudando Nietzsche por minha própria conta e risco lá nos idos dos anos 80 - quando não havia no horizonte nenhuma certeza sobre universidade, filosofia, professor ou sequer morar em Porto Alegre me dei por conta de que Nietzsche é um grego tardio ou que - para usar a forma que hoje designo esta relação: Nietzsche dialoga diretamente com os gregos e com mais ninguém e faz isso usando a língua grega...e já ali entendi que para compreender Nietzsche é preciso ler os gregos....ainda que eu leia os gregos para compreender e avançar sobre muito mais do que Nietzsche hoje....

Além disto, ainda que não vá estudar filologia grega, língua grega ou mesmo comparar traduções e traçar novas etimologias teremos um encontro com certos termos os conceitos que eles carregam em si e suas relações semânticas e sintáticas originais...podes estranhar que eu use aqui a relação sintática também para referir a conceitos e seus significados..trata-se do fato de que certos conceitos e termos gregos trazem junto suas constelações próprias de significação e que esta significação não foi fixada na história e é apenas encontrada sem alterações ou evoluções de significado ao longo do tempo....ao contrário cada conceito e termo grego tem uma história....

Confiando na intuição de Havelock sobre a revolução da escrita grega e suas consequências culturais e a história da formação da língua grega e a sua tarefa historiográfica, isto é, a necessidade de compreender a dimensão antropológica e também histórica da língua, da literatura e da filosofia nos períodos clássico e arcaico, penso que ei de lidar sim com situações em que há o conceito, mas não há o termo e também onde há o termo mas o conceito que originalmente era um passa a ser outro ou a ganhar outra nuance e âmbito de aplicação..

Uma das coisas que mais me impressionou em minhas leituras do ano passado tanto de Platão como de um texto de Heidegger sobre o Sofista em que o avanço de Aristóteles para Platão se mostrou efetivamente muito mais interessante do que pensamos antes e em que se fez a inversão, também, na ordem de exposição e apresentação do Mito da Caverna de Platão e da Teoria do Conhecimento Aristotélica aos alunos, o que veio por mostrar o quanto esta evolução e o aprimoramento de Aristóteles produzia clarificação e simplificação de algo que ainda pode ser tratado mais de novo e mais clarificado ainda em outras direções... assim, ainda que Heidegger faça um juízo tão positivo do trabalho de compreensão de Aristóteles sobre Platão - como se verá na citação a seguir, precisamos mais uma vez rever o antecedente à luz do seus sucessor e de seus outros antecessores (os Pré-Socráticos)...e tem sido uma aventura maravilhosa e carregada de descobertas este exercício e estas leituras..HEIDEGGER - O SOFISTA:

"Até aqui foi usual interpretar a filosofia platônica de tal modo que se avançava de Sócrates e dos pré-socráticos até Platão. Queremos tomar o caminho inverso, retornando de Aristóteles para Platão. Esse caminho não é inaudito. Ele segue o antigo preceito da hermenêutica, de que se deve partir da interpretação do claro para o obscuro. Pressupomos que Aristóteles teria compreendido Platão. Assim como em geral se precisa dizer quanto à questão da compreensão que os que vêm depois sempre compreendem melhor os antecessores do que estes compreenderam a si mesmo. (...) O que Aristóteles diz é aquilo que Platão lhe entrega em mãos, só que com cunhagem mais radical, mais científica. Aristóteles deve nos preparar, portanto, para Platão (...) (HEIDEGGER, 2012, p. 11).


ver: HEIDEGGER, Martin. Platão: O sofista. Trad. Marco Antônio Casanova. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2012.          

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