Powered By Blogger

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

DIZER A MESMA COISA DE FORMAS DIFERENTES: VERSÃO DE TRABALHO


"Não é só inspiração: você precisa ter uma visão lógica da música e depurar aquilo até que fique muito claro. Quem gostar vai entender quase como uma flecha, vai ver que tem uma ambição de composição, de canção, de arranjo."

Marina Lima – em entrevista

Isso começou na hora da maçã....que desde as 10:00 está vigente...e seguiu até depois do almoço...entre a MONTANHA DA VIDA e CHOVE NA IDADE MODERNA...

Trato agora de uma coisa que me provocava muito precocemente quando lia certos autores, certos ensaios, certos artigos, traduções diferentes em textos. Observava as pequenas variações e diferenças, nuances e detalhes e via algo como que bem amplo como pano de fundo de tudo.

Mas que também se apresentou para mim na música, em que as diferentes versões da mesma canção, a mesma sinfonia regida por este ou aquele maestro, executada por esta ou aquela orquestra, aqueles ensaios do coral e as apresentações e a diferença entre algumas apresentações e outras.

E também aquilo que parece a mágica na arte, na fotografia, na pintura, em que a linguagem ou a tábua de construção é a mesma (o mesmo toolbar amplo e maravilhoso que a natureza e nossas habilidades nos oferecem somados agora às diversas tecnologias e técnicas disponíveis) em que a mesma imagem pode ser vista, retratada, pintada ou totalmente construída e reconstruída de forma diferente.

Walter Benjamim chamou de AURA ao efeito próprio de uma obra de arte que é preservado na sua singularidade.

Hoje eu creio que a AURA se deslocou do objeto e está ingressando diretamente em nossa sensibilidade. E, também, penso na minha reincidente analogia aos jogos de linguagem de Wittgenstein para dar sentido à certas coisas. Mas uso aqui os jogos de linguagem pensando em múltiplos jogos que conseguem ter relação entre eles, assim como as canções e as versões de canções entre elas, assim como as múltiplas imagens e fotografias. Também vejo ai um uso possível da forma lógica como uma espécie de estrutura invisível que agente imaginariamente pode observar nos elementos que compõe estes objetos

E está aqui junto comigo, até hoje, aquela imagem ou metáfora do Pistão ou Trumpete, que o Paulo Faria usava para a nossa linguagem como um trumpete que precisa ter uma certa folga no embolo para tirar esta ou aquela nota e para andar mais rápido nas diferentes variações e escalas. E assim eu entendo o Jazz (e uma parte do Rock e de toda a música) com aquela aparente loucura ou corrida maluca, pelas notas e aquelas escalas diferentes misturadas e sub tons em uma mesma canção, nas dissonâncias da bossa nova. Assim, não tenho conseguido mais pensar filosoficamente sem pensar musicalmente, literariamente e poeticamente, porque há uma aproximação estrutural entre elas, numa espécie de base que eu tenho usado para tratar do tema do aprisionamento ou libertação.

Dizer a mesma coisa de formas diferentes não é um pecado ou defeito é somente uma forma de abrir a rede de significado e de sentido o mais amplamente possível...e reduzir a diferença e a distancia entre o centro e as pontas do meu pensamento e do seu...a primeira vez que pensei nisso imaginava que estava ensaiando ou só me repetindo...

Quem escuta mal ou quem não tem ou desenvolver certo gosto musical ou que não cultiva a audição é que não percebe que dizer as vezes é como o Jazz e que existem "milhares" de variações possíveis sobre o mesmo tema...e quem toca um instrumento fica sempre procurando a melhor nota, o melhor ritmo e todas as demais combinações possíveis entre elas e outros instrumentos....

Então, ao abrir a rede de significado estamos aprendendo a chegar também em mais pessoas e em mais sensibilidades e entendimentos...parece haver uma certa tridimensionalidade ou multidimensionalidade do sentido e eu olho agora na minha imaginação para muitas escalas musicais ao mesmo tempo e imagino elas relacionadas em paralelas e em arranjos...assim como quando estou muito bem e quando escrevo subo e desço numa espécie de dicionário mental ou enciclopédia escolhendo as palavras e as constelações de sentido (com afigura astrológica aqui e anti-astrológica aqui de Adorno).

Fui estudar INSENSATEZ ontem. E eu gosto muito desta canção porque ela tem na minha percepção musical de aprendiz diversas aberturas para outras harmonias e improvisações. E fazem uns dois anos vi uma apresentação do Gelson Oliveira - figuraça - em que eu fiquei mentalmente e as vezes balbuciando vozes e sons paralelos aqueles que saiam do violão e da voz dele e me dei conta de que eu estava começando a pensar mais musicalmente após uns seis meses de canto coral, com Lúcia Passos, Agnes Schmelling no Coral Municipal.

Ao estudar esta canção ontem com violão e voz, e escutando mais arranjos, me aconteceu o que sempre me acontece ultimamente e o que só é possível porque estas tecnologias permitem fazer tudo isso em um único dia: pesquisar, encontrar, ouvir, executar, gravar se quiser e ensaiar Assim tive o prazer de ver as Cifras por Tom Jobim (tom F, primeiro acorde Am7), João Gilberto (tom G, primeiro acorde Bm7), Toquinho e Vinicius ( tom Am7, primeiro acorde Bm), Fernamda Takai ( tom F, primeiro acorde Am7) e constatar que de fato há um diálogo interno entre os diferentes arranjos e uma espécie de analogia nos intervalos das notas, mas uma ênfase aqui ou ali nas notas básicas em sétimas, menores, maiores que vão dando variações para a canção e que é muito legal fazer o que eu fiz, porque hoje pela manhã acordei com as diferentes versões rodando na cabeça e ficou visível a forma lógica da canção digamos assim.

A Marina Lima deve estar falando na epigrafe que usei aqui nisto também, ainda que possa ter uma concepção de lógica ali que parece mais técnica fazendo certo contraste com a inspiração. Coisa esta que Picasso dizia também, que sem 90% de trabalho e 10% de inspiração não há obra de arte, mas a gente olha para os vídeos dele pintando e se dá conta que os materiais podem ser os mesmos, mas que permanece a mágica da mão própria dele e do olhar próprio dele para as coisas. E quando você estuda uma coleção de esboços dele se dá conta de que as variações que ele apresenta ainda são inferiores aquilo tudo que ele devia imaginar na cachola dele. E a depuração da qual Marina fala é o resultado destes exercícios de busca, destes esboços e das diversas formas de dizer a mesma coisa. Mas, devo dizer que não penso que haveria a forma perfeita dadas as variações possíveis e as mãos, cabeças e vozes que podem se jogar afazer isto.


Você que me lê esperando uma solução racional ou uma interpretação que feche tudo isso, provavelmente gostaria muito que eu reduzisse isso à lógica, ou que eu fechasse com uma estrutura elegante de apresentação de todos estes elementos e analogias. Mas eu preciso ir além, para preservar o que realmente importa aqui nesta experiência e aprendizagem. Preciso tocar não somente na tua cabeça, preciso muito chegar no teu coração e te fazer viver melhor e ser mais feliz....e o meu motivo para isso não precisa ser revelado ou justificado, nem mais julgado....

Nenhum comentário:

Postar um comentário