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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

SOBRE OS SALÁRIOS DOS PROFESSORES E TALS

Sim...mas eu sou professor...e professor de ensino médio e a cada dia que passa me convenço mais de que não quero fazer outra coisa, sou muito feliz na minha atividade e me sinto muito gratificado mesmo com as dificuldades e os cavacos do ofício e, ao mesmo tempo, tenho sim esperança em dias melhores....já tenho quinze anos de magistério estadual....fiz muitas greves e tive muitas conquistas....quero o piso, mas também quero manter o nosso plano de carreira...vindo de onde eu venho ter um salário garantido, um trabalho digno e perspectiva de crescimento é ótimo...quero mais e como a maioria dos professores trabalho para isto na educação pública estadual e vamos conseguir...sobre o futebol confesso que tentei mas não deu....por outro lado este é um outro problema porque muita gente fica medindo seu salário por parâmetros irreais e absurdos e com necessidades de consumo bem supérfluas....e qualquer comparação entre o salário de professor e outras carreiras é ruim....na minha opinião porque o nosso salário é baixo sim, mas também porque o de algumas carreiras e corporações é muito superior e muito alto...eu defendo teto salarial para todas as carreiras...isonomia salarial de acordo coma função....e a unificação integral das carreiras de estado nos três níveis: municipal, estadual e federal....alguém pode me dizer que é sonho isso...mas acho que é necessário...não admito que pessoas com as mesmas funções em estruturas semelhantes tenho tanta desigualdade nos rendimentos...quer um exemplo?...as secretarias de escola e os  demais cargos administrativos no judiciário, legislativo e executivos...tanto no nivel técnico quanto no superior vemos absurdos garantidos por corporações poderosas...e nem vou falar das áreas específicas de formação superior porque daí é um verdadeiro escândalo: ou alguém está afim de comparar mais alguma coisa? rsss.... 

THE KON CONCERT - KEITH JARRETT

Neste verão retomei contato de novo com um disco que me foi apresentado na casa de uma amiga lá pelos idos de 1982. No dia que fiz contato com ele de novo completam-se 28 anos da execução desta obra-prima. É um disco que me impressiona e me alegra sempre toda vez que eu o escuto. E que na primeira vez que o escutei fiquei muito tocado pela abertura e os improvisos que ele usou para tocar aquele piano, em especial a partir dos 7 minutos da 1A parte. Passados mais ou menos 30 anos do primeiro contato com The Koln Concert de Keith Jarrett, hoje sou um pouco mais sensível e mais racional eu diria assim. Em parte por ter estudado mais, envelhecido mais, acumulado diversas experiências e também por ter iniciado um contato mais contínuo com a música a partir do Canto Coral e, ainda, possuir instrumentos musicais e meios que não tinhamos à época. E, ao mesmo tempo, dispomos de acesso, meios de estudo e  pesquisa muito mais abundantes do que naquela época. Imagina que consegui desde o início de janeiro até hoje fazer várias descobertas em torno do concerto e inclusive ensaiar brincadeiras ao violão com ele. É mesmo um outro tempo este que vivemos e fico iompressionado com a s gigantescas possibilidades que estão abertas neste e em outros casos. Temos acesso pela rede a gravação integral de 66 minutos aqui com excelente fidelidade na minha opinião. Temos acesso a toda obra de Keith Jarrett aliás. Acesso a bons comentários sobre este concerto em diversas línguas e ainda - para aqueles que tocam piano e leem partituras - acesso à partitura integral adaptada do Koln Concert. Vou dar as principais referências que encontrei então e desejo bom proveito aos amigos e amigas. 

GRAVAÇÃO:





De um jovem professor - lá nos  idos de 1995 na ETC-UFRGS, no início da carreira que chegava em sala de aula e dizia: primeiro vamos para o Sermão da Montanha, após isso - somente após isso, virá a Multiplicação dos Pães e a Transformação da Água em Vinho....então....

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

HÁ MONSTROS EM TODAS AS COISAS - OU FIQUE FORA DISSO

Tales de Mileto - aquele jovem frajola e experto dizia: existem deuses em todas as coisas.....ele era muito arguto e sagaz....as vezes eu penso que alguns passam o tempo todo dizendo o contrário disso que há na verdade monstros em todos os lugares e em todas as coisas....e que é melhor não ter curiosidade nenhuma, não mexer em nada nem com ninguém e ficar quietinho olhando passar os trabalhos e os dias....não ter opinião também é uma forma de evitar os monstros...mas porque? bem, isto não é da sua conta! Ahhhh...tá legal!!! Tudo Bem....estou espantado contigo..deverás....nossa: MONSTROS? MESMO? 

O MILAGRE GREGO

Estive pensando na minha total impossibilidade de entender os gregos...no fato de que bem pensadas as coisas a Grécia é uma coisa meio inexplicável....como explicar para as crianças que os poemas de Homero possuem uma métrica para facilitar - com rimas e etc, a memorização dos rapsodos  e que eles sobreviveram graças a uma - talvez a maior de todas - façanhas de transposição da memória oral para a escritura, como explicar que o próprio Homero - essa figura gigantesca talvez não seja um poeta, mas um Deus colocado lá atrás para justificar a unidade e a veracidade moral de certas narrativas fantásticas, mitológicas, cosmogônicas e heróicas.... Aquiles, Helena, Ulisses, e ir desfiando aquelas histórias - não é todo dia que o professor chega na escola disposto a narrar resumidamente e a desafiar radicalmente os jovens a saírem do tempo atual (partiu ao passado) para talvez um tempo passado que talvez não tenha nada que ver com o nosso tempo - como afirmam os ignóbeis desenraizados....me assopra ao ouvido maqui um Totem: mas vc não podia também contar e narrar os mitos Yorubas?...sim, claro...claro que sim...mas também contar e narrar a história de Arjuna...mas voltando ao Milagre Grego e o que me impressiona nele e que me levou a  escrever isto aqui: como explicar que esta proeza da memória - a passagem dos poemas de Homero ( Iliada e Odisséia), se conecta diretamente com o surgimento da filosofia, sem apelar para o uso da expressão MILAGRE? eu não sei....eu não sei....vai ter que ser assim....e alguém vai tenatr me convencer de novo de que a filosofia não surgiu na Grécia de que ela foi importada de um outro lugar mais maravilhoso, mas me lembro de uma pequena nota de um classicista: sim, talvez tudo se explique somente pela brisa nova do mediterrâneo que sopra ali em especial na costa de Mileto e o segredo está naquela terra em que um jovem plantou oliveiras e colheu frutos para fazer um azeite e tal.....e que pensando bem, foi a água de lá, foi a combinação daquela lenha no fogo, foi a natureza da pedra e do pó com os quais aqueles homens e mulheres foram feitos e formados pelos seus próprios deuses que levou isto tudo...um mistério glorioso...digno de todo meu esforço para espantar..digno de todo meu impeto para surpreender...vou clamar muito que aconteça uma tempestade na hora desta aula, para que eu faça o que já fiz um dia: aponte o dedo para a rua..para os ventos, arvores balançando e para a chuva e diga: é isto meninos e meninas - é este o motivo de tudo que digo...a força da natureza impeliu os gregos - mais do que qualquer outro povo a procurar razões, causas, explicações....ali aonde justamente todos os temerários deste mundo viam deuses e viam a possibilidade da perpétua danação...estes loucos guardaram na memória um  poema de heróis e deuses...em que os heróis brigam entre si, em que os deuses brigam com os heróis e os deuses brigam entre eles para simplesmente dizer para tudo: que agora chegou a  hora de começar a pensar...de investigar as causas, abandonar os culpados e tentar compreender o que acontece...venha tempestade, venha que eu te darei meus olhos, venha que eu te darei meu espanto....isso não é um milagre? não sei....não sei....não sei....não tenho certeza alguma sobre isto....

domingo, 24 de fevereiro de 2013

SOBRE TESTAR O CARÁTER DE UM HOMEM DANDO PODER A ELE E AS AMBIÇÕES

isso vale em muitos sentidos...muitos que não ambicionam o poder ambicionam parte de privilégios que ele proporciona..e outros pensam exclusivamente em suas próprias oportunidades...

..temos que julgar sim e ter bem claro que existem monstros dos dois lados da equação....

a minha experiência me mostrou duramente o quão dificil é lidar com as fantasias das pessoas e os sonhos das pessoas...

principalmente quando algumas pessoas pensam exclusivamente nos seus próprios interesses e jamais são capazes de compreender outras prioridades e aceitá-las....

e assim caminha a humanidade...

mas eu não penso que é doente quem ambiciona o poder...

conheço de outro lado muitas pessoas incríveis que ambicionam o poder e fazem coisas maravilhosas para todos com ele..

.temos que educar pessoas para serem lideres e temos que saber construí-las para tal...

eu aprendi a admirar muitos líderes e a respeitá-los também...

mas isso não significa que estou tolerando monstros e engolindo monstros que pegam carona com estas histórias..

sábado, 23 de fevereiro de 2013

SOBRE AQUELE ASSUNTO QUE ANDA BOMBANDO POR AÍ NESTA MALDITA SEMANA


MINHA OPINIÃO OFICIAL E DEFINITIVA SOBRE CERTO ASSUNTO:


é como se vc fosse pago pela CIA OU qualquer outra instituição muito zelosa da liberdade no mundo, para fazer palestras pelo mundo falando mal da Dilma e todos os fdps, torturadores, sacanas, autoritários e mentirosos intelectuais de todo os gêneros possíveis, incluindo os boca abertas, panacas, songa-mongas, lontras, mogadons (essa eu merecia citar em especial aqui) e etc, te recebessem de braços abertos para aparecer na tevê e dizer em coro: 

OLHA COMO NÓS SOMOS BONZINHOS E ELE É UM COITADINHO....

e ao mesmo tempo ser vaiado e pixado por qualquer estalinista de quinta categoria que esqueceu de ler alguns pequenos livros de história e algumas poucas anotações razoáveis sobre a democracia e a liberdade neste grande vale de lágrimas que é o mundo...

quer saber?....

siga em frente....

muda de assunto que tem coisa bem mais importante para ser lida estudada e que requer muito a tua atenção....
Em verdade vos digo: todo verdadeiro filosofo é um desgraçado!!! Por mais que tente ser feliz. Sofre de verdade e sente as dores do mundo e do pensamento no âmago do seu ser, mesmo que não diga isto aos quatro ventos.

HEIDDEGER ESTE OUTRO DESGRAÇADO

O segundo exemplo, nos parece mais obtuso, mais profundo e mais pesado ainda. Martin Heidegger em Ser e Tempo, é o maior massacre filosófico que jamais li sobre a questão da nossa existência, mas é verdadeiro. E é muito difícil atingir a sua verdade. Tão dificil que tendemos a achar e nos precipitar de que ele estava completamente errado em tudo, inclusive em sua vida. É outro desgraçado, mas muito verdadeiro. Agora mesmo enquanto escrevo estas coisas aqui - entre um corte de grama e outro - pensando e meditando, me surpreendo com as fortes impressões e também com aspectos bem rasos da filosofia dele. Um exemplo magnifico é de que nós todos deveríamos acertar nossas contas com a questão do ser, entendam isso como quiserem meus amigos e amigas, mas significa basicamente que deveríamos pensar mais sobre nossa existência e o seu próprio sentido finito e que ainda nos abre a possibilidade de ser lançado em um projeto. Parece profundo, no seu texto e na maior parte dos comentários, mas é muito verdadeiro e brutal.

O QUE IMPRESSIONA EM WITTGENSTEIN?

Tenho dois exemplos de filósofos muito verdadeiros e impressionantes e que eu admiro muito. O desgraçado do Ludwig Wittgesntein, ele podia estar errado e creio, intuo e imagino que se alguns comentadores muito honestos e dedicados estiverem certos, ele estava errado em quase todas as linhas e partes de uma de suas obras mais notáveis, mas ele é verdadeiro, absolutamente verdadeiro, terrivelmente verdadeiro em cada uma de suas poucas linhas e aforismos. Sempre que o leio tenho uma forte impressão sobre suas idéías. E ele tenta muito ser claro, apesar da profundidade dos seus debates e dos seus enigmas. 

A ACMÉ DOS FILÓSOFOS ATUAIS

Muitos filósofos até então e agora no século XX e XXI, filósofas sonham com a sua própria ACMÉ...pensam em que se chegar um dia talvez terão seu apogeu de idéias. Este é um bom sonho, um belo sonho. Não é um sonho vaidoso, nem um sonho qualquer. Eu tendo a respeitar muito aqueles que fazem esforços sérios e deliberados nesta direção. A busca da glória - como disse nosso paraninfo - é sim a única grande meta de todo o filósofo e filósofa, mas isto não deveria ser tão almejado assim...penso que talvez alguns deveriam desejar ,muito caminhar na direção oposta, não para serem incompreendidos ou pouco reconhecidos, mas sim para serem simplesmente bem compreendidos, ainda que possam estar errados, ainda que possam não ser perfeitos em suas idéias e proposições.
O desgraçado que filosofa assim tem dois defeitos muito sérios: ama os aforismos e usa e abusa da primeira pessoa, mas tenta acima de tudo ser verdadeiro.

SER VERDADEIRO

O importante não é ser profundo, mas sim verdadeiro. Conheço muitas pessoas profundas e muitas pessoas rasas, mas eu quase daria todos os meus livros para conhecer sempre mais pessoas rasas e simples do que as profundas. O problema não é estar certo ou errado, o problema é ser verdadeiro. Assim, é possível que você esteja errado mas que seja muito verdadeiro e isto me ensina mais do que se você estivesse certo, mas fosse completamente falso e simulado.

A SOLIDÃO E A VITÓRIA SOBRE SI MESMO

A solidão não é o laboratório da loucura ela é o laboratório da verdadeira existência e do verdadeiro pensamento...nenhum sonho coletivo pode ganhar realidade se os homens e as mulheres não vencerem em primeiro lugar a si mesmos.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

DISCURSO EM PRIMEIRA PESSOA: ANOTAÇÃO

Bom Dia....

Há uma motivação bem pessoal para filosofar, escrever livros, narrar histórias, traçar crônicas do cotidiano, construir poemas com estruturas invisíveis e significados superiores ou expor experiências pessoais seja aqui, seja em um jornal, seja em praça pública.

Quando chamamos isto de motivação pessoal, talvez tenhamos que equilibrar mais as coisas sobre isto. Isto não significa que o objeto de interesse é exclusivamente pessoal. Deve-se pensar mais sobre isto. Tendo a imaginar que o alvo é muito mais interessante do que meras mazelas pessoais ou quizilias particulares.

Penso que mesmo o ator que representa um outro, uma personagem fictícia, exibe uma parte de si mesmo ao fazê-lo.

Mas não há nada de errado nisto com ele. Nenhum pingo de culpa pode ter o ator, o escritor ou o filósofo em relação a isto.

E quanto mais parece que ele se despiu da sua vaidade para fazê-lo ou se compraz em seu narcisismo com isto, mais ele nos engana no seu ardil.

Esta é uma primeira impressão altamente enganadora.

O discurso em primeira pessoa tem esta característica fundamental ou provoca nossa simpatia instantânea ou nossa aversão imediata...tudo se passa como se o que estivesse sendo posto ou devesse ser absolutamente genial ou absolutamente horrível aos meus olhos...não há - na maior parte das vezes - uma tomada de posição média sobre este discurso.

Mas deveríamos nos perguntar com um pouco mais de reflexão sobre o que mesmo em nós fica revoltado ou embevecido neste discurso.

Eu tendo a escrever muito na primeira pessoa.

E tendo, a partir de um certo momento e de uma certa altura da minha trajetória e itinerário, também a fazê-lo tanto em minhas reflexões mais filosóficas quanto em meus relatos e opiniões mais pessoais seja sobre minhas vivências e memórias seja sobre minhas experiências emocionais ou sentimentais.

Em meus textos tendo a  ficar desabrido. Diria assim, me confessando o tempo todo sem culpa e sem um pingo de mágoa ou rancor. E não por vaidade. 

Mas não faço isto para me perder, nem para me exibir, mas sim para encontrar em palavras meus sentimentos, decifrá-los e compreendê-los.

Ao publicar isto não julgo que minha vida é o centro de toda a existência, nem me vejo como um umbigo do mundo, mas me compreendo e compreendo muitas pessoas ao fazê-lo...e me custa muito este exercício...fico imaginando um músico com uma partitura difícil tentando executá-la da forma mais honesta e sincera possível.

E da forma mais exímia também..

Me sinto assim ao escrever.

Mesmo agora escrevo pensando na minha primeira idéia inicial e que agora fica sendo a última sobre a qual vou me aproximando com esta narrativa: num discurso filosófico. 

Nada pode ser mais enganador do que o uso da primeira pessoa: temos dois exemplos magníficos e clássicos disto em Santo Agostinho de Hipona - As Confissões, e em René Descartes - As Meditações de Primeira Filosofia ou também o Discurso do Método, é um equívoco julgar que ali só temos uma narrativa biográfica de uma primeira pessoa, na verdade temos nestes dois textos e em diversos outros uma narrativa de um sujeito que é per si, mais universal ou transcendental do que à primeira vista.

O Eu que se apresenta ali é o Eu de qualquer um de nós bem pensadas as coisas.

Porque ao fazer uma narrativa desta forma eles nos permitem ter a mesma experiência de reflexão e de auto-reflexão que eles estão tendo para escrever aquelas linhas maravilhosas..estou bem longe disto em diversos sentidos, mas me sinto como muitas pessoas que aqui escrevem sobre suas coisas ou sobre tudo que lhes dá na telha..tentando ser mais humano e mais universal possível....boa parte daquilo que é narrado poderia ser vivido e muitas vezes é vivido por cada um de nós em algum momento de nossa vida..

Me parece fundamental que a principal questão ai não é quem fala, ou quem escreve, mas sim aquilo que é escrito e o sentido disto para a vida de todos nós.

Assim, talvez seja necessário esquecer desta pessoa e ver nela o que é universal e transitivo a todos nós.

Da mesma forma que temos que ler os grandes filósofos e os grandes escritores com este mesmo espírito..e isto não é um pedido, nem uma sugestão.

È somente uma avaliação sobre esta pequena dificuldade interpretativa que gera tanta celeuma gratuita  e improdutiva nestes temas pessoais e coletivos.

Nós podemos nos entender melhor e escrever é sim uma proposta de diálogo e reflexão.

Mesmo quando se usa a primeira pessoa..

Cabe a cada de nós entender o seu papel neste diálogo e fazer a nossa parte para que ou a conversa continue o se abandone de vez esta possibilidade aberta com uma proposta destas.

Há mais filosofia e sabedoria nestas palavras "pessoais" e eu fico muio feliz quando consigo encontrá-las e descobri-las após uma esforço constante e persistente de reflexão ao que me dedico todos os dias por opção e escolha pessoal de longa data.

Toda vez que escuto uma grande cantora e um grande cantor fico pensando em quantas vezes ele fez e fez de novo a mesma nota e a mesma canção até chegar a este ponto em que nos embevecemos com sua performance...quantos ensaios.

E é maravilhoso poder escutar isso, assim como me é maravilhoso conseguir escrever isto....outro dia contínuo...

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

O ESTALO DO PENSAMENTO: ADMIRAÇÃO

Bom Dia...meus melhores dias começam cedo e principalmente quando acordo admirado com uma descoberta qualquer, um detalhe antes não vislumbrado, a pontinha miúda de alguma ideia que parece ser fundamental para o pensamento e a aprendizagem do pensamento...tento, então me aproximar com muita calma e muita cautela para que esta ideia seja colhida em toda a sua pureza, na sua natureza mais simples e singela, sem demasias e sem fantasias...sem exageros e sem atropelos...quando a gente começa a estudar um pouco de filosofia nos damos conta que é preciso evitar os encobrimentos, os esquecimentos e as precipitações nos juízos....assim acontece com o primeiro estalo de uma criança antes de começar a ler. ela não sabe que isso vai ser feito intuitivamente, quase automaticamente, e até dar o estalo a aparência é que será uma operação difícil, que precisa somar as letras em silabas, pronunciá-las mentalmente, soletrar cada uma delas para ter uma palavra, mas não consegue...até que chega um momento em que aquilo acontece...a mente dela torna comum esta operação e ela então começa a ler...primeiro lentamente e depois vai se aligeirando e se deliciando coma  leitura continua de grandes expressões mesmo que não as entenda...pelo simples prazer de ler...com a filosofia parece acontecer algo semelhante...parece que seu cérebro..ou sua mente começa a ler o mundo de uma forma diferente e você passa a se admirar disto, porque esta forma diferente não te leva para muitas respostas, mas sim para muitas comparações, diferenças e muitas perguntas....e aí te dá aquele estalo....e você fica definitivamente admirado....é isto então...e não acredita que possa ser algo tão importante...pensa até que é somente um sentimento....é preciso pensar para encontrar esta primeira experiência do pensamento...é uma lembrança encoberta pelo automatismo do nosso raciocínio, por uma lógica adquirida ou desenvolvida que parece que anda sozinha...você não tem certeza se isso é uma descoberta ou invenção..e fica ali olhando este acontecimento e se admirando....a cada linha que escrevo vou me aproximando....e me afastando também....

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

A DESCOBERTA DO DIÁLOGO POR JORGE LUIS BORGES

“Uns quinhentos anos antes da era cristã aconteceu na Magna Grécia a melhor coisa registrada na história universal: a descoberta do diálogo. A fé, a certeza, os dogmas, os anátemas, as preces, as proibições, as ordens, os tabus, as tiranias, as guerras e as glórias assediavam o orbe; alguns gregos contraíram, nunca saberemos como, o singular costume de conversar. Duvidaram, persuadiram, discordaram, mudaram de opinião, adiaram. Quiçá foram ajudados por sua mitologia, que era, como o Shinto, um conjunto de fábulas imprecisas e de cosmogonias variáveis. Essas dispersas conjecturas foram a primeira raiz do que hoje chamamos, não sem pompa, de metafísica. Sem esses poucos gregos conversadores a cultura ocidental é inconcebível...”  Jorge Luis Borges. Sobre a filosofia e outros diálogos (gratia a Gabriele Cornelli.)

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

OBAMA NÃO ESTÁ SOMENTE DISCURSANDO: AGENDA 2013


Assisti esta semana, na terça-feira à noite, o discurso do Presidente Americano Barack Obama, de abertura do ano legislativo e político americano. Tinha uma curiosidade sobre o que ele diria a respeito de diversos assuntos da conjuntura nacional e internacional. O famoso e tradicional ESTADO DA UNIÃO – STATE OF THE UNION ADRESS, com que todos os presidentes americanos saúdam o congresso e propõem temas aos congressistas americanos de OBAMA me pareceu muito mais focado nos temas locais, pois discorreu sobre temas muito específicos e importantes para os EUA.

Três exemplos breves disto são as idéias de incentivo ao ingresso da maior parte das crianças de 3-4 anos nas escolas infantis, através da redução do custo semanal disto, a idéia de aumento do salário mínimo e a idéia de promover o fortalecimento das disciplinas de matemática e ciências e do ensino técnico e tecnológico. Ele falou até mesmo do desafio de viabilizar o ingresso de um contingente maior de jovens americanos no ensino superior.  

Neste discurso em que ele apresentou o leque de suas prioridades de governo ou a agenda política de sua administração, o seu enfoque foi claramente em propostas educacionais, de salário mínimo, de direitos sociais, e, também, de imigração e de formas de superação da recessão que ainda abala a economia americana desde a crise herdada do Governo Bush, na crise de 2007-2008.

Também focou o desafio do congresso de votar uma nova legislação para o tema do desarmamento com referências a familiares das vítimas presentes no congresso e – mais que isto – tratou muito sobre a relação entre os cidadãos americanos e aquilo que Kennedy cunhou como aquilo que você pode e deve fazer pela América para ela se constituir através da força dos seus cidadãos. 

É o primeiro discurso dele aos congressistas após a sua reeleição e que abre os próximos 4 anos de sua derradeira gestão, mas me chama muita atenção o fato de que neste discurso ele tem dois grandes desafios herdados de Bush: a guerra contra a Al Qaeda e a crise econômica.

Por mais que tenha divergências e inclusive urticária quando penso em certas relações políticas internacionais da grande nação americana, suas ações econômicas e em todo o peso militar daquele país no mundo, tendo a julgar positivamente o discurso dele.

Por duas razões: primeira ele tem um discurso que responde sim a realidade americana e aos desafios americanos atuais, inclusive me surpreendendo em alguns pontos, e, também, apresenta uma agenda externa correta da perspectiva da realidade que ele enfrenta.

E não creio que seja sensato recusar in limine o tema geral da liberdade, da democracia e da cidadania somente porque é proferido pelo presidente americano como um tema relevante, importante e determinante das condições de vida das pessoas neste planeta.

E eu tendo sim a tentar avaliar o que ele está tentando propor com este discurso e o sentido da sua fala, tanto numa dimensão política, como numa dimensão humana e civilizatória.

Não gosto nada da forma como alguns intérpretes avaliam discursos políticos, porque eles se esquecem que as palavras para os políticos são moedas mais preciosas do que para muitos jornalistas e comentaristas.

Assim, as acusações de contorcionismo e de mera retórica não me parecem sensatas neste caso em especial e em diversos outros.

Vejo correntemente uma espécie de desdém dos comentaristas em relação às intenções e ao sentido dos discursos das lideranças. Pois eu penso que quem usa esta chave deveria estar fazendo outras coisas e não comentários sobre performativos ou ação política.

O que, aliás, foi a minha sensação ao assistir os comentários de Demétrio Magnoli, na GLOBO NEWS. Oscilava entre um simplismo explicativo e uma espécie de uso e abuso de opostos clássicos ao tratar da relação entre os Democratas e os Republicanos no tempo atual.

Eu não penso que o principal debate ali era de Obama com os congressistas, ma sim de Obama com o povo americano. E se o desafio dele é liderar o seu povo ele deve sim estar conseguindo pelo que percebi.

Que nenhuma palavra sobre as novas doutrinas ultra-conservadoras do Tea Party foi apresentada nos comentários, por exemplo, é sintoma de que o comentarista não entendeu que o confronto não é entre o liberalismo clássico do século XIX e um estatismo Rooseweltiano.

O confronto é entre o NEW DEAL do Obama e o Tea Party. E o Tea Party não é nem perto de uma doutrina liberal sendo muito mais parecido a um anarco conservadorismo.

Todas as propostas que o Obama apresenta são consideradas socialistas pelo pessoal do Tea Party, e, aos nossos olhos, são meramente reformistas e seguem na linha de constituição de direitos e não no fortalecimento ou inflação do estado americano.

Ainda que quanto às regras de migração, a reação possa ser mais controversa.

Mesmo quando propõe que se resolva o acesso regular e tranqüilo dos imigrantes à economia americana é mais razoável do que esta carnificina que ocorre naquela fronteira com o México e às condições de vida dos clandestinos.

A resumida midiática à pauta socialista ou estatizante, o que em grau algum corresponde as propostas de Obama, salvo no tema das reformas das estradas, escolas, hospitais para gerar mais empregos e reduzir o desemprego atual, no que toca à parcela de investimentos públicos nisto.

Penso que a incompreensão disto está a serviço justamente de uma crítica por tabela ao estado brasileiro e aos direitos civis brasileiros e, também, ao que está sendo difícil para a grande mídia assimilar que são os resultados positivos das medidas de Dilma e Lula contra a crise.

Bem anotadas as coisas – coisa que o grandiloqüente comentarista não faz – se percebe que o Brasil está à frente dos EUA em vários itens da agenda Obama 2013. 

Já o Idelber Avelar – do ex-blog Biscoito Fino e a Massa que promoveu a maior cobertura on line das primárias e da eleição do Obama em 2009, tem críticas em relação a alguns temas também que devem ser consideradas sempre, posto que é um dos maiores e mais profundos especialistas em política americana atual – apesar dele certamente discordar desta avaliação.

E li também um comentário, na minha opinião também ruim porque fica no nível da mera negação do Alfredo Machado no Blog do Nassif que me deixou decepcionado.

Já as agências noticiosas como a AFP (Agencia France Presse) resume assim o discurso de Obama:” lançou uma  ambiciosa agenda de estímulo à economia, controle da venda de armas e reforma do sistema migratório"

Penso que as vezes o pessoal antecipa o ceticismo antes mesmo de entender o significado do que está sendo dito e o seu alcance no seu contexto específico.

Creio que o ceticismo é um bom guia contra a credulidade, o dogmatismo e os instintos alvissareiros tão comuns em colonizados e submissos, mas é absolutamente inútil na interpretação de atos de fala.

A pergunta fundamental neste caso não é se você acredita no discurso dos políticos ou não?, mas sim se você compreende o alcance deste discurso e o seu contexto real de fala?

Penso que é de um primitivismo e açodamento tremendo ler e julgar discursos desta forma. Obama deve ter cumprido uma lista de uns 30 assuntos de sua grande agenda e com um CHECK LIST e obteve uma interação com o público impecável em sua fala.

Uma performance com timing e acentos adequados e tem gente aqui que fica fazendo troça, como se o discurso do cara fosse amador ou como se ele estivesse ali com aquele microfone de brincadeira.

E não vale para mim o fato dele estar repetindo coisas de quatro anos atrás.

Se sim, se é o caso, isso significa que ele persiste numa direção e que persegue seus objetivos.

Visto desta forma é pouco provável que sua reeleição não tenha relação direta com isto.

O que pode acabar por tornar possíveis muitas coisas da sua agenda contra a resistência dura da oposição que ele enfrenta.

Não é de hoje que a política externa americana depende mais de emoções do que de razões, ou que as razões americanas parecem boas, mas são ruins.  

A proposta de  retirada em duas etapas do militares do Afeganistão responde aquilo que eu já comentei aqui no debate entre Obama e Ronmey sobre política externa de que “os EUA tem que parar de sacrificar seus filhos e os filhos de toda a humanidade através de uma política externa belicista, intervencionista e equivocada. Obama não é - salvo melhor juízo - o fim e a remissão desta política, mas diminui esta estratégia que quase independe do Salão Oval, porque está entranhada na ordem de estado americano”.

Com uma primeira leva agora até atingir os 34 mil militares no ano que vem do Afeganistãoe uma outra leva de mais 35 mil até 2014, é sim uma boa notícia e é aquilo que virou manchete na maior parte dos jornais pelo mundo.

Além disso, outra fonte de polêmica é se a Al Qaeda foi derrotada ou não.

Obama afirma que sim em seus discurso, nós podemos até duvidar disto e inclusive suspeitar de que “a Al Qaeda” está mais espalhada e disseminada no mundo hoje do que há dez anos atrás, como disse o Idelber “está hoje em locais onde não havia”.

Mas eu também noto que o uso dos Drones e das outras armas sofisticadas afastam de vez a hipótese de um novo Vietnã, mas mantém os massacres de civis também.

Ele propôs uma aliança econômica com a Europa que deve ter consequências mais rápidas do que parece à primeira vista para os céticos.

Mas observei uma característica muito marcante no discurso do Obama que merece ser destacada: em parte do seu tempo ele fez referências e menções permanentes a importância daqueles que estão em armas defendendo a democracia e a liberdade nos EUA e no mundo.

Diria que ele está mantendo deliberadamente o povo atento às necessidades eventuais de mobilização militar e também acenando com reconhecimento explícito a sua aliança com as forças militares.

Eu não apostaria de forma alguma que no horizonte político do Obama não esteja delineado o pior dos mundos possíveis ainda.

Neste sentido, ao contrário do que alguns imaginam o fato de Obama citar a aliança econômica com a Europa e não referir alguma proposta para a América Latina, pelo bem e pelo mal, nos deixa em paz. E não se passaram nem três dias e Obama já foi lá fazer a sua negociação com a Europa ou a Comunidade Européia. Ele sabe, e qualquer um pode saber disso, que se a Europa sucunbe à crise os EUA vão juntos. Creio que está valendo um estudo das últimas crises econômicas para se compreender o que anda ocorrendo na economia mundial desde a crise do petróleo até a de 2008.  Esta crise atual que se prolonga e teve seu início na economia americana é bem mais desafiadora do ponto de ista da política externa do que parece.   

Não sou ancora nem especialista em política externa, mas com uma leitura básica da história americana e com um acompanhamento atento dos últimos tempos – últimos 30 anos – ou seja, desde Reagan vejo em Obama o maior presidente americano e o mais honesto e sincero discurso da política contemporânea. E ele precisa ser verdadeiro mesmo para superar esta crise atual. Não é por nada que ele conseguiu se eleger presidente e se reeleger.

Então eu diria a partir disto que uma leitura simplista e o usos excessivos de chavões surrados para interpretar o que ele diz não é nada recomendável.     

Considerando o contexto - a fúria fascista e liberal que o partido republicano representa naquele país - Obama tem boas propostas, excelentes conceitos e também uma abordagem muito correta do tema da cidadania.

Ele não fez uma salada de frutas como alguns pensam, nem deu um show de retórica. Quando propõe uma comissão para estudar e propor solução às filas de votação e ao sistema de apuração americano, fazendo homenagem a uma eleitora de 102 anos que ficou sete horas na fila esperando para votar ele indica de forma direta que os seus desafios são desafios do povo americano.

Ele pontuou temas e problemas que realmente precisam ser enfrentados e pediu votos do congresso com uma estratégia de discurso muito forte para questões que realmente podem melhorar a vida do povo americano e as suas relações com o resto da humanidade. E isso aborreceu os Republicanos nesta noite.

Ao escalar o Jovem senador pela Florida, para responder ao discurso presidencial os republicanos sinalizam com uma situação tipo regra três, ou seja, manda o menino.

E aquilo que poderia parecer um sinal de renovação, é, na verdade, uma forma de tentar reduzir a importância do discurso de Obama, o que, aliás, é a mesma atitude de alguns comentaristas locais.

Quer dizer que o maior desejo dos republicanos em relação ao discurso de Obama é que eles esqueçam tudo que ele disse e olhem somente para a questão migratória e o velho problema que eles mesmos criaram de um estado que gasta mais dinheiro para tirar vidas humanas do que para fazerem os homens e mulheres deste mundo viverem.

É sim, isto que penso, os republicanos que rejeitam um estado inchado e caro, com deficit e dividas, fazem política para criar um estado disfuncional que mais mata - guerras e fronteiras, do que faz viver. E é ai que entra a discussão deles sobre o Medicare.

O custo do Medicare é alto segundo eles, mas é algo muito controverso o fato de que um EX-Seal, um Marine que foi o assassino do Osama Bin Laden na noite mais escura, ter se desligado das forças especiais e do serviço militar e ser hoje em menos de dois anos um homem sem assistência à saúde. (Os brasileiros deveriam valorizar muito mais o SUS.)

O custo da guerra é alto, mas o mais Sniper americano, morreu com um outro amigo em solo americano alvejado por uma arma de fogo num centro de treinamento, após ter enfrentado missões e liquidado aproximadamente 150 inimigos, ou 250 em suas próprias contas. São coisas como esta, e os exemplos podem ser ampliados, que nos levam a perguntar sim pelo tipo de conceito de segurança que a nação americana tem construído.   

Tendo a prestar mais atenção nos desdobramentos e imagino que um pouco de mais atenção ao discurso dele possa ajudar a entender melhor a conjuntura internacional em sua atual instabilidade e com seus dois principais desafios: a crise econômica global e o cenário de conflito ainda presente entre o Ocidente e o Oriente.

Todo mundo fica esperando como a China vai se comportar neste cenário, mas o que me parece mais plausível é que ela não vá se envolver mesmo nestes conflitos. E tudo se passa como os problemas do mundo fossem somente religiosos com a renúncia do Papa.

Por fim, com a Coréia do Norte se expondo desta forma, creio que os outros elementos do cenário acabam se mitigando e se aproveitando para armar algo como um contra-ataque. Não gosto do comportamento diplomático em geral, pois vejo mais dissimulação hoje do que se podia observar às vésperas da segunda guerra mundial.

Para concluir, é mesmo notável como para nós, as medidas internas de Obama parecem desimportantes e o quanto nos preocupamos sobre como será o comportamento exterior desta nação que já foi outrora a mais poderosa do planeta, mas vejo estas medidas como extremamente ligadas em seu discurso que reforça o tempo todo o espírito civil que a América precisa para enfrentar os tempos futuros.

P.S. Também publicado em primeira versão no Blog do Nassif: AS PRIORIDADES DO GOVERNO OBAMA

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

PARA QUEM PENSA QUE O PROBLEMA DO BRASIL É A ELEIÇÃO DO RENAN CALHEIROS NA PRESIDÊNCIA DO SENADO E O AVAL DO PARTIDO DOS TRABALHADORES




Fico pensando muito tempo nestas coisas, por exemplo, no fato de que alguns canalhas precisam sempre de outras vantagens para fazer aquilo que é o certo e indubitável para o bem do Brasil.

O mensalão ou coisa que o valha ou semelhante a ele é só a pontinha da desfaçatez que são as vantagens exigidas pela maior parte dos políticos – e de muitos cidadãos - para fazer o certo, votar o certo e apoiarem aquilo que é necessário.

Isso é ruim? Muito ruim. Mas é isto exatamente o que a casa oferece para qualquer partido no Brasil hoje.

Me deu um alento – e alento não é conforto nem uma serena tranquilidade - saber que o próprio Lincoln teve que pagar para a canalha e dispor de cargos e posições para conseguir abolir a escravidão nos EUA até 1865.  Pelo menos formalmente, porque sabemos que levaram mais 100 anos para que isso de fato ocorresse com o fim da discriminação racial, a abolição do Apartheid várias outras medidas. Mas é bom anotar aqui que estas mudanças não se deram sem lutas.

No Brasil, na minha opinião, vale o paralelo em relação a pobreza. Senão me digam qual foi o governo na história deste pais que dedicou esforços, recursos e programas para atacar isto? E como este governo conseguiu reeleger seu presidente e reeleger sua sucessora?

Mas creio que é um bom exercício para todos nós ainda que cada um pense por si mesmo sobre isto. Mas pense mais sobre isto. Nenhuma brasileiro é obrigado a ter filiação partidária, mas todos nós sabemos que precisamos de partidos mais fortes e de lideranças melhores. Eu perguntaria em, que mesmo que a mídia nacional tem ajudado nesta seletiva? Vejo aqui pelo Rio Grande do Sul mesmo. Todo gaúcho sabe ou deveria saber que a grande imprensa e televisão, que os herdeiros do monopólio dos meios de comunicação local incidem sobre as escolhas do povo. Como é isto nos demais estados do Brasil?

Eu ficaria muito mais feliz e escreveria textos bem mais agradáveis se antes de eleger senadores e deputados que fazem uma força desgraçada para apoiar o fim da miséria e o fim da pobreza, o povo elegesse senadores e deputados que simplesmente estivessem dispostos a fazer o que é correto.

As vezes me dou conta de algo parecido com isto: eles elegem toda semana o maior problema do Brasil da hora. Eles, o povo da moralidade e dos senso comum nacional, a classe media que lê o mundo através de articulistas e jornalistas que são uma piada, ficam correntemente vexados co0m o cenário político e seus personagens. Mas eles não fazem política, não assumem nenhuma responsabilidade pública, fazem como os republicanos atuais nos EUA pagam seus impostos se forem obrigados, reclamam do alto custo deles e pedem para o governo não se meter nas ações morais cotidianas deles.

E Renan Calheiros é isso: o maior problema do Brasil!!! E assim tudo se passa como se o problema só ganhasse existência agora. Porqie ele é somente mais um biombo para atacar o PT. Bem, eu creio que não foi o PT que deu sobrevida a Renan Calheiros, nem foi o PT que o elegeu nestes últimos 47 anos. E assim como com ele vale com muitos outros. Ou alguém acha que o PT pode governar o Brasil, sem senadores e deputados, sem estes partidos que ai estão, solito no más?

Postei estes dias no meu Blog e em uma comunidade do PT o discurso de Posse do LULA em 2003 e aquela avaliação do João Sicsú que foi colocada aqui no Blog do Nassif.

Para que os companheiros que também estão descontentes como Renan Calheiros dessem uma avaliada nos resultados gerais e no que falta fazer. Avaliar porque a luta continua e não cério que devamos recuar, recolher bandeiras e abandonar esta caminhada difícil e dura para fazer o que fazemos.

Porque para mim é muito duro a gente mudar a vida de milhões de brasileiros e mudar de forma profunda e radical e as pessoas ficarem discutindo de um ponto de vista moralista se o Sarney, o Renan ou o Collor são amigos ou inimigos. Eu jamais recusaria apoio – e nenhum partido no Brasil se mantem recusando apoio ou adesões, recusando alianças, acordos e pactos, ou impondo somente seus interesses e programas. E teve um dia – lá atrás – bem antes da famosas CARTA AOS BRASILEIROS em que a gente teve que desistir de ficar posando de salvação do Brasil e conquistar o poder aqui.

E tudo que tem acontecido desde lá está nesta lógica com o firme objetivo de mudar a vida das pessoas.

NÃO É A REVOLUÇÃO, não é mesmo e também NÃO É A MORALIDADE que a gente gostaria, mas é o nosso governo, é o governo do PT sim, e um governo que fez, tem feito e fará mais bem para o nosso povo brasileiro.

E isto está dando muito certo, muito certo mesmo, sob qualquer parâmetro real de avaliação.

O problema para mim não são as más companhias. Ao contrário do que diz uma figura extremamente respeitada no Partido, e que também teve que suportar a pressão, a campanha e o ataque impiedoso da mídia, de alguns aliados e de muitos adversários poderosos na época. Vale revisitar aqui o governo Olívio Dutra no Rio Grande do Sul. Pois foi um belo governo onde as companhias faltaram.

Sempre haverão más companhias para bons e ótimos governos, e não temos que ter ilusão para isto não, nem construir um sonho ou um conto de fadas, inclusive dentro do PT mesmo. Não somos perfeitos, não somos infalíveis, não somos angelicais, mas temos propostas políticas ali onde muitos calam, temos discursos com soluções e programas ali onde muitos apostam na recessão, no deficit zero ou nas medidas de diminuição, extinção e eliminação do estado. Sim, porque este é outro debate que deveríamos tratar aqui. Há uma ideologia por trás desta crítica geral ao PT que no fundo quer extinguir o estado. Eu não digo isto desconhecendo a tremenda e grave pressão das corporações pro mais ganhos e rendas – inclusive a exemplar e muito moral corporação incrustrada no judiciário. Os donos do poder não são personas escondidas, tem visibilidade e prestígio e são bem reconhecíveis. Suas gerações, seus nomes e sobrenomes são bem conhecidos em todos os rincões deste país.

O único problema com as boas companhias é para que e o que você faz com o apoio delas. Se me dissessem que era para fazer isto tudo que fizemos eu aceitaria de novo e de novo e de novo.

Ou alguém prefere ficar assistindo o PSDB governar, o PMDB governar sozinho ou o PP governar, porque tem aversão a corruptos? Porque tem aversão a política?

Também tenho aversão à corrupção e não há nada que me deixa mais furioso é ver entre nós companheiros e companheiras alguém em qualquer desvio de conduta. Isso inclui o palito abandonado na repartição ou a dedicação diária a assuntos pessoais ou interesses pessoais.

Mas, os nosso aliados, nós não pedimos para eles serem como nós.
Nós pedimos para eles nos apoiarem e eles estão nos apoiando mais e às vezes nos compreendendo mais do que muitos que começaram esta caminhada com a gente.

E quem bater em mim pelo que eu digo que faça melhor, faça mais e lute muito mais. Se eleja e faça muito melhor.Mas conquiste o poder e faça mudanças, não meras acomodações e adaptações.

Pois, então eu prefiro o Renan Calheiros do que muitos outros e suas batinas e sandálias franciscanas. Sempre lembro quando discuto política o quanto as aparências enganam e o quanto elas não enganam não – para fazer aqui um trocadilho e me lembrar da querida Elis.

Lembro daquela cena do Poderoso Chefão, em que Michael está na Itália., na Sicilia e quando o assassino e seu auxiliar estão vestidos de padres. É assim que eu olho para alguns destes anjos: assassinos vestidos de padres. Eu passo. Ou seja não aposto nenhuma ficha da política nacional nestes caras.

Nós já tivemos posição de correntes internas no PT sobre o Senado.

E eu ainda tenho a mesma posição que é contrária a existência do senado.
Porque é uma espécie de câmara moderadora e bem conservadora. Veja bem o perfil dos senadores.

Em qualquer hipótese ou crivo de análise representam o passado do Brasil e as políticas do passado - justamente aquilo do que devemos nos afastar o mais rapidamente possível, não para negar, mas para dar um passo adiante.

Renan foi eleito por 70% destes caras. E não dou a mínima se tem ou não gente do PT lá – todos os senadores que lá estão, na minha opinião seriam melhores deputados. Tivemso um candidato do PT ao senado aqui no Rio Grande do Sul que chegou a discutir isto em campanha. O Miguel ROSSETTO parecia que queria ir para lá para explodir aquilo lá. E não deu, não se elegeu. Venceu esse Senador chamado Pedro Simon.

Então, RENAN é bem representativo deles todos e é o líder deles. Eu fico muito i8ntrigado com o PMDB nacional e o local. Tem um debate interessante que foi feito aqui no Rio Grande do Sul sobre a ÉTICA ABAIXO OU ACIMA DO MAPITUBA ser diferente no período dos escândalos do Governo Yeda.

É muita ingenuidade nós querermos que a Dilma peite isto e dissolva estes senadores, seus partidos e seus poderes.

Nós não queremos ter poder absoluto em coisa nenhuma e não foi para isto que construímos o PT. Ao contrário, na nossa gênese somos contra os partidos únicos e contra também os modelos stalinistas de formação política. Isto está na nossa história lá atrás no final dos anos 70, quando os primeiros militantes comunistas e socialistas optaram por se juntar aos estudantes, trabalhadores e comunidades eclesiais de base para formar o PT.

Eu era estudante e tinha uma suave formação marxista e trotskista, e, como muitos, era contrário a este modelo de partido único e também muito crítico ao personalismo.

Na minha modesta opinião fraqueza geral é um partido que não consegue implementar o seu projeto e nós estamos dez anos fazendo justamente isto: implementando o projeto que em linhas gerais construímos em 22 anos de militância e gestões.

O povo é soberano e ao eleger as pessoas que elege, nos obriga sim a negociar e a promover alianças e acordos com eles. Isso é um gesto de profundo respeito à democracia brasileira da nossa parte. E eu quero que nenhum governo deste país seja dominado por um único partido, porque quando isso acontecer voltaremos à ditadura e a liberdade de escolha, de reflexão e a possibilidade de construir o nosso país ficará na mão de poucos.

Sobre a nota ética vou traçar algumas linhas aqui. Porque se a ética que nós defendemos for aplicada é quase a mesma coisa que fazer uma revolução e botar no paredão a grande maioria dos políticos, inclusive alguns nossos, mas eu quero escrever sobre isto com muito mais rigor do que opinião, por uma questão profissional e política também.

O PT não abdicou da ética e da moralidade, mas o PT não é o povo, nem o guia espiritual dos demais partidos e jamais será. Cabe à nós do PT sermos exemplares nisto. E esta linha política não é de alguns indivíduos. Ou é do coletivo ou não significa nada e para que tal aconteça precisamos interagir com o coletivo dentro do Partido.

Quanto a cortar na carne a cada um aqui no partido aquilo que lhe é devido e na exata medida do que é devido. Sem meias palavras. Para ser ético não basta opinar como ético é preciso agir como tal e os espaços da ação são a vida, o partido, a comunidade, a escola e governos ou movimentos.

Ou no nosso caso no nosso trabalho e no nosso cotidiano. Qualquer que seja ele.

Penso que o PT não está apodrecendo, o que ocorre é uma acomodação e a supremacia freqüente de interesses facciosistas e personalistas em muitos lugares, mas isto é um problema político decorrente de um comportamento de rebanho que ocorre no PT por força da institucionalidade.

Quando alguns falam em virar o cocho deveriam se lembrar de qual é mesmo a natureza do alimento primordial num partido. Não são cargos, nem salários, nem espaços, nem prestígio ou vaidades, são as propostas, as idéias e o programa.

Tudo deve estar absolutamente a serviço do programa.

E na minha opinião, nestes 33 anos o PT fez muita coisa a serviço do Programa e neste sentido é um partido que cumpre o seu compromisso com este pais.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

LULA 2002 - DISCURSO DE POSSE

Exmos. Srs. Chefes de Estado e de Governo; senhoras e senhores; visitantes e chefes das missões especiais estrangeiras; Exmo. Sr. Presidente do Congresso Nacional Senador Ramez Tebet; Exmo. Sr. Vice-Presidente da República José Alencar; Exmo. Sr. Presidente da Câmara dos Deputados, Deputado Efraim Morais, Exmo. Sr. Presidente do Supremo Tribunal Federal, Ministro Marco Aurélio Mendes de Faria Mello; Sras. e Srs. Ministros e Ministras de Estado; Sras. e Srs. Parlamentares, senhoras e senhores presentes a este ato de posse.

"Mudança"; esta é a palavra chave, esta foi a grande mensagem da sociedade brasileira nas eleições de outubro. A esperança finalmente venceu o medo e a sociedade brasileira decidiu que estava na hora de trilhar novos caminhos.

Diante do esgotamento de um modelo que, em vez de gerar crescimento, produziu estagnação, desemprego e fome; diante do fracasso de uma cultura do individualismo, do egoísmo, da indiferença perante o próximo, da desintegração das famílias e das comunidades. Diante das ameaças à soberania nacional, da precariedade avassaladora da segurança pública, do desrespeito aos mais velhos e do desalento dos mais jovens; diante do impasse econômico, social e moral do País, a sociedade brasileira escolheu mudar e começou, ela mesma, a promover a mudança necessária.

Foi para isso que o povo brasileiro me elegeu Presidente da República: para mudar. Este foi o sentido de cada voto dado a mim e ao meu bravo companheiro José Alencar. E eu estou aqui, neste dia sonhado por tantas gerações de lutadores que vieram antes de nós, para reafirmar os meus compromissos mais profundos e essenciais, para reiterar a todo cidadão e cidadã do meu País o significado de cada palavra dita na campanha, para imprimir à mudança um caráter de intensidade prática, para dizer que chegou a hora de transformar o Brasil naquela nação com a qual a gente sempre sonhou: uma nação soberana, digna, consciente da própria importância no cenário internacional e, ao mesmo tempo, capaz de abrigar, acolher e tratar com justiça todos os seus filhos.
Vamos mudar, sim. Mudar com coragem e cuidado, humildade e ousadia, mudar tendo consciência de que a mudança é um processo gradativo e continuado, não um simples ato de vontade, não um arroubo voluntarista. Mudança por meio do diálogo e da negociação, sem atropelos ou precipitações, para que o resultado seja consistente e duradouro.

O Brasil é um País imenso, um continente de alta complexidade humana, ecológica e social, com quase 175 milhões de habitantes. Não podemos deixá-lo seguir à deriva, ao sabor dos ventos, carente de um verdadeiro projeto de desenvolvimento nacional e de um planejamento de fato estratégico. Se queremos transformá-lo, a fim de vivermos em uma Nação em que todos possam andar de cabeça erguida, teremos de exercer quotidianamente duas virtudes: a paciência e a perseverança.

Teremos que manter sob controle as nossas muitas e legítimas ansiedades sociais, para que elas possam ser atendidas no ritmo adequado e no momento justo; teremos que pisar na estrada com os olhos abertos e caminhar com os passos pensados, precisos e sólidos, pelo simples motivo de que ninguém pode colher os frutos antes de plantar as árvores. Mas começaremos a mudar já, pois como diz a sabedoria popular, uma longa caminhada começa pelos primeiros passos.

Este é um País extraordinário. Da Amazônia ao Rio Grande do Sul, em meio a populações praieiras, sertanejas e ribeirinhas, o que vejo em todo lugar é um povo maduro, calejado e otimista. Um povo que não deixa nunca de ser novo e jovem, um povo que sabe o que é sofrer, mas sabe também o que é alegria, que confia em si mesmo em suas próprias forças. Creio num futuro grandioso para o Brasil, porque a nossa alegria é maior do que a nossa dor, a nossa força é maior do que a nossa miséria, a nossa esperança é maior do que o nosso medo.

O povo brasileiro, tanto em sua história mais antiga, quanto na mais recente, tem dado provas incontestáveis de sua grandeza e generosidade, provas de sua capacidade de mobilizar a energia nacional em grandes momentos cívicos; e eu desejo, antes de qualquer outra coisa, convocar o meu povo, justamente para um grande mutirão cívico, para um mutirão nacional contra a fome.
Num país que conta com tantas terras férteis e com tanta gente que quer trabalhar, não deveria haver razão alguma para se falar em fome. No entanto, milhões de brasileiros, no campo e na cidade, nas zonas rurais mais desamparadas e nas periferias urbanas, estão, neste momento, sem ter o que comer. Sobrevivem milagrosamente abaixo da linha da pobreza, quando não morrem de miséria, mendigando um pedaço de pão.

Essa é uma história antiga. O Brasil conheceu a riqueza dos engenhos e das plantações de cana-de-açúcar nos primeiros tempos coloniais, mas não venceu a fome; proclamou a independência nacional e aboliu a escravidão, mas não venceu a fome; conheceu a riqueza das jazidas de ouro, em Minas Gerais, e da produção de café, no Vale do Paraíba, mas não venceu a fome; industrializou-se e forjou um notável e diversificado parque produtivo, mas não venceu a fome. Isso não pode continuar assim.
Enquanto houver um irmão brasileiro ou uma irmã brasileira passando fome, teremos motivo de sobra para nos cobrirmos de vergonha. Por isso, defini entre as prioridade de meu Governo um programa de segurança alimentar que leva o nome de "Fome Zero". Como disse em meu primeiro pronunciamento após a eleição, se, ao final do meu mandato, todos os brasileiros tiverem a possibilidade de tomar café da manhã, almoçar e jantar, terei cumprido a missão da minha vida.

É por isso que hoje conclamo: Vamos acabar com a fome em nosso País. Transformemos o fim da fome em uma grande causa nacional, como foram no passado a criação da PETROBRAS e a memorável luta pela redemocratização do País. Essa é uma causa que pode e deve ser de todos, sem distinção de classe, partido, ideologia. Em face do clamor dos que padecem o flagelo da fome, deve prevalecer o imperativo ético de somar forças, capacidades e instrumentos para defender o que é mais sagrado: a dignidade humana.

Para isso, será também imprescindível fazer uma reforma agrária pacífica, organizada e planejada. Vamos garantir acesso à terra para quem quer trabalhar, não apenas por uma questão de justiça social, mas para que os campos do Brasil produzam mais e tragam mais alimentos para a mesa de todos nós, tragam trigo, tragam soja, tragam farinha, tragam frutos, tragam o nosso feijão com arroz. Para que o homem do campo recupere sua dignidade sabendo que, ao se levantar com o nascer do sol, cada movimento de sua enxada ou do seu trator irá contribuir para o bem-estar dos brasileiros do campo e da cidade, vamos incrementar também a agricultura familiar, o cooperativismo, as formas de economia solidária. Elas são perfeitamente compatíveis com o nosso vigoroso apoio à pecuária e à agricultura empresarial, à agroindústria e ao agronegócio, são, na verdade, complementares tanto na dimensão econômica quanto social. Temos de nos orgulhar de todos esses bens que produzimos e comercializamos.

A reforma agrária será feita em terras ociosas, nos milhões de hectares hoje disponíveis para a chegada de famílias e de sementes, que brotarão viçosas com linhas de crédito e assistência técnica e científica. Faremos isso sem afetar de modo algum as terras que produzem, porque as terras produtivas se justificam por si mesmas e serão estimuladas a produzir sempre mais, a exemplo da gigantesca montanha de grãos que colhemos a cada ano.
Hoje, tantas e tantas áreas do País estão devidamente ocupadas, as plantações espalham-se a perder de vista, há locais em que alcançamos produtividade maior do que a da Austrália e a dos Estados Unidos. Temos que cuidar bem - muito bem - deste imenso patrimônio produtivo brasileiro. Por outro lado, é absolutamente necessário que o País volte a crescer, gerando empregos e distribuindo renda.

Quero reafirmar aqui o meu compromisso com a produção, com os brasileiros e brasileiras, que querem trabalhar e viver dignamente do fruto do seu trabalho. Disse e repito: criar empregos será a minha obsessão. Vamos dar ênfase especial ao Projeto Primeiro Emprego, voltado para criar oportunidades aos jovens, que hoje encontram tremenda dificuldade em se inserir no mercado de trabalho. Nesse sentido, trabalharemos para superar nossas vulnerabilidades atuais e criar condições macroeconômicas favoráveis à retomada do crescimento sustentado para a qual a estabilidade e a gestão responsável das finanças públicas são valores essenciais.

Para avançar nessa direção, além de travar combate implacável à inflação, precisaremos exportar mais, agregando valor aos nossos produtos e atuando, com energia e criatividade, nos solos internacionais do comércio globalizado.

Da mesma forma, é necessário incrementar - e muito - o mercado interno, fortalecendo as pequenas e microempresas. É necessário também investir em capacitação tecnológica e infra-estrutura voltada para o escoamento da produção. Para repor o Brasil no caminho do crescimento, que gere os postos de trabalho tão necessários, carecemos de um autêntico pacto social pelas mudança e de uma aliança que entrelace objetivamente o trabalho e o capital produtivo, geradores da riqueza fundamental da Nação, de modo a que o Brasil supere a estagnação atual e para que o País volte a navegar no mar aberto do desenvolvimento econômico e social. O pacto social será, igualmente, decisivo para viabilizar as reformas que a sociedade brasileira reclama e que eu me comprometi a fazer: a reforma da Previdência, reforma tributária, reforma política e da legislação trabalhista, além da própria reforma agrária. Esse conjunto de reformas vai impulsionar um novo ciclo do desenvolvimento nacional.

Instrumento fundamental desse pacto pela mudança será o Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social que pretendo instalar já a partir de janeiro, reunindo empresários, trabalhadores e lideranças dos diferentes segmentos da sociedade civil. Estamos em um momento particularmente propício para isso. Um momento raro da vida de um povo. Um momento em que o Presidente da República tem consigo, ao seu lado, a vontade nacional. O empresariado, os partidos políticos, as Forças Armadas e os trabalhadores estão unidos. Os homens, as mulheres, os mais velhos, os mais jovens, estão irmanados em um mesmo propósito de contribuir para que o País cumpra o seu destino histórico de prosperidade e justiça.

Além do apoio da imensa maioria das organizações e dos movimentos sociais, contamos também com a adesão entusiasmada de milhões de brasileiros e brasileiras que querem participar dessa cruzada pela retomada pelo crescimento contra a fome, o desemprego e a desigualdade social. Trata-se de uma poderosa energia solidária que a nossa campanha despertou e que não podemos e não vamos desperdiçar. Uma energia ético-política extraordinária que nos empenharemos para que se encontre canais de expressão em nosso Governo.

Por tudo isso, acredito no pacto social. Com esse mesmo espírito constituí o meu Ministério com alguns dos melhores líderes de cada segmento econômico e social brasileiro. Trabalharemos em equipe, sem personalismo, pelo bem do Brasil e vamos adotar um novo estilo de Governo com absoluta transparência e permanente estímulo à participação popular.

O combate à corrupção e a defesa da ética no trato da coisa pública serão objetivos centrais e permanentes do meu Governo. É preciso enfrentar com determinação e derrotar a verdadeira cultura da impunidade que prevalece em certos setores da vida pública. Não permitiremos que a corrupção, a sonegação e o desperdício continuem privando a população de recursos que são seus e que tanto poderiam ajudar na sua dura luta pela sobrevivência. Ser honesto é mais do que apenas não roubar e não deixar roubar. É também aplicar com eficiência e transparência, sem desperdícios, os recursos públicos focados em resultados sociais concretos. Estou convencido de que temos, dessa forma, uma chance única de superar os principais entraves ao desenvolvimento sustentado do País. E acreditem, acreditem mesmo, não pretendo desperdiçar essa oportunidade conquistada com a luta de muitos milhões e milhões de brasileiros e brasileiras.

Sob a minha liderança o Poder Executivo manterá uma relação construtiva e fraterna com os outros Poderes da República, respeitando exemplarmente a sua independência e o exercício de suas altas funções constitucionais. Eu, que tive a honra de ser Parlamentar desta Casa, espero contar com a contribuição do Congresso Nacional no debate criterioso e na viabilização das reformas estruturais de que o País demanda de todos nós. Em meu Governo, o Brasil vai estar no centro de todas as atenções. O Brasil precisa fazer em todos os domínios um mergulho para dentro de si mesmo, de forma a criar forças que lhe permitam ampliar o seu horizonte. Fazer esse mergulho não significa fechar as portas e janelas ao mundo. O Brasil pode e deve ter um projeto de desenvolvimento que seja ao mesmo tempo nacional e universalista, significa, simplesmente, adquirir confiança em nós mesmos, na capacidade de fixar objetivos de curto, médio e longo prazos e de buscar realizá-los. O ponto principal do modelo para o qual queremos caminhar é a ampliação da poupança interna e da nossa capacidade própria de investimento, assim como o Brasil necessita valorizar o seu capital humano investindo em conhecimento e tecnologia.

Sobretudo vamos produzir. A riqueza que conta é aquela gerada por nossas próprias mãos, produzida por nossas máquinas, pela nossa inteligência e pelo nosso suor. O Brasil é grande. Apesar de todas as crueldades e discriminações, especialmente contra as comunidades indígenas e negras, e de todas as desigualdades e dores que não devemos esquecer jamais, o povo brasileiro realizou uma obra de resistência e construção nacional admirável.

Construiu, ao longo do século, uma nação plural, diversificada, contraditória até, mas que se entende de uma ponta a outra do Território. Dos encantados da Amazônia aos orixás da Bahia; do frevo pernambucano às escolas de samba do Rio de Janeiro; dos tambores do Maranhão ao barroco mineiro; da arquitetura de Brasília à música sertaneja. Estendendo o arco de sua multiplicidade nas culturas de São Paulo, do Paraná, de Santa Catarina, do Rio Grande do Sul e da Região Centro-Oeste. Esta é uma nação que fala a mesma língua, partilha os mesmos valores fundamentais, se sente que é brasileira. Onde a mestiçagem e o sincretismo se impuseram dando uma contribuição original ao mundo. Onde judeus e árabes conversam sem medo. onde a mestiçagem e o sincretismo se impuseram, dando uma contribuição original ao mundo, onde judeus e árabes conversam sem medo, onde toda migração é bem-vinda, porque sabemos que em pouco tempo, pela nossa própria capacidade de assimilação e de bem-querer, cada migrante se transforma em mais um brasileiro.

Esta Nação que se criou sob o céu tropical tem que dizer a que veio; internamente, fazendo justiça à luta pela sobrevivência em que seus filhos se acham engajados; externamente, afirmando a sua presença soberana e criativa no mundo. Nossa política externa refletirá também os anseios de mudança que se expressaram nas ruas. No meu Governo, a ação diplomática do Brasil estará orientada por uma perspectiva humanista e será, antes de tudo, um instrumento do desenvolvimento nacional.

Por meio do comércio exterior, da capacitação de tecnologias avançadas, e da busca de investimentos produtivos, o relacionamento externo do Brasil deverá contribuir para a melhoria das condições de vida da mulher e do homem brasileiros, elevando os níveis de renda e gerando empregos dignos. As negociações comerciais são hoje de importância vital. Em relação à ALCA, nos entendimentos entre o MERCOSUL e a União Européia, que na Organização Mundial do Comércio, o Brasil combaterá o protencionismo, lutará pela eliminação e tratará de obter regras mais justas e adequadas à nossa condição de País em desenvolvimento.

Buscaremos eliminar os escandalosos subsídios agrícolas dos países desenvolvidos que prejudicam os nossos produtores privando-os de suas vantagens comparativas. Com igual empenho, esforçaremo-nos para remover os injustificáveis obstáculos às exportações de produtos industriais. Essencial em todos esses foros é preservar os espaços de flexibilidade para nossas políticas de desenvolvimento nos campos social e regional, de meio ambiente, agrícola, industrial e tecnológico.

Não perderemos de vista que o ser humano é o destinatário último do resultado das negociações. De pouco valerá participarmos de esforço tão amplo e em tantas frentes se daí não decorrerem benefícios diretos para o nosso povo. Estaremos atentos também para que essas negociações, que hoje em dia vão muito além de meras reduções tarifárias e englobam um amplo espectro normativo, não criem restrições inaceitáveis ao direito soberano do povo brasileiro de decidir sobre seu modelo de desenvolvimento.

A grande prioridade da política externa durante o meu Governo será a construção de uma América do Sul politicamente estável, próspera e unida, com base em ideais democráticos e de justiça social. Para isso é essencial uma ação decidida de revitalização do MERCOSUL, enfraquecido pelas crises de cada um de seus membros e por visões muitas vezes estreitas e egoístas do significado da integração.

O MERCOSUL, assim como a integração da América do Sul em seu conjunto, é sobretudo um projeto político. Mas esse projeto repousa em alicerces econômico-comerciais que precisam ser urgentemente reparados e reforçados. Cuidaremos também das dimensões social, cultural e científico-tecnológica do processo de integração. Estimularemos empreendimentos conjuntos e fomentaremos um vivo intercâmbio intelectual e artístico entre os países sul-americanos. Apoiaremos os arranjos institucionais necessários, para que possa florescer uma verdadeira identidade do MERCOSUL e da América do Sul. Vários dos nossos vizinhos vivem hoje situações difíceis.

Contribuiremos, desde que chamados e na medida de nossas possibilidades, para encontrar soluções pacíficas para tais crises, com base no diálogo, nos preceitos democráticos e nas normas constitucionais de cada país. O mesmo empenho de cooperação concreta e de diálogos substantivos teremos com todos os países da América Latina.

Procuraremos ter com os Estados Unidos da América uma parceria madura, com base no interesse recíproco e no respeito mútuo. Trataremos de fortalecer o entendimento e a cooperação com a União Européia e os seus Estados-Membros, bem como com outros importantes países desenvolvidos, a exemplo do Japão. Aprofundaremos as relações com grandes nações em desenvolvimento: a China, a Índia, a Rússia, a África do Sul, entre outros.

Reafirmamos os laços profundos que nos unem a todo o continente africano e a nossa disposição de contribuir ativamente para que ele desenvolva as suas enormes potencialidades. Visamos não só a explorar os benefícios potenciais de um maior intercâmbio econômico e de uma presença maior do Brasil no mercado internacional, mas também a estimular os incipientes elementos de multipolaridade da vida internacional contemporânea.

A democratização das relações internacionais sem hegemonias de qualquer espécie é tão importante para o futuro da humanidade quanto a consolidação e o desenvolvimento da democracia no interior de cada Estado. Vamos valorizar as organizações multilaterais, em especial as Nações Unidas, a quem cabe a primazia na preservação da paz e da segurança internacionais. As resoluções do Conselho de Segurança devem ser fielmente cumpridas. Crises internacionais como a do Oriente Médio devem ser resolvidas por meios pacíficos e pela negociação. Defenderemos um Conselho de Segurança reformado, representativo da realidade contemporânea com países desenvolvidos e em desenvolvimento das várias regiões do mundo entre os seus membros permanentes.

Enfrentaremos os desafios da hora atual como o terrorismo e o crime organizado, valendo-nos da cooperação internacional e com base nos princípios do multilateralismo e do Direito Internacional. Apoiaremos os esforços para tornar a ONU e suas agências instrumentos ágeis e eficazes da promoção do desenvolvimento social e econômico do combate à pobreza, às desigualdades e a todas as formas de discriminação da defesa dos direitos humanos e da preservação do meio ambiental.
Sim, temos uma mensagem a dar ao mundo: temos de colocar nosso projeto nacional democraticamente em diálogo aberto, como as demais nações do planeta, porque nós somos o novo, somos a novidade de uma civilização que se desenhou sem temor, porque se desenhou no corpo, na alma e no coração do povo, muitas vezes, à revelia das elites, das instituições e até mesmo do Estado.
É verdade que a deterioração dos laços sociais no Brasil nas últimas duas décadas decorrentes de políticas econômicas que não favoreceram o crescimento trouxe uma nuvem ameaçadora ao padrão tolerante da cultura nacional. Crimes hediondos, massacres e linchamentos crisparam o País e fizeram do cotidiano, sobretudo nas grandes cidades, uma experiência próxima da guerra de todos contra todos.

Por isso, inicio este mandato com a firme decisão de colocar o Governo Federal em parceria com os Estados a serviço de uma política de segurança pública muito mais vigorosa e eficiente. Uma política que, combinada com ações de saúde, educação, entre outras, seja capaz de prevenir a violência, reprimir a criminalidade e restabelecer a segurança dos cidadãos e cidadãs.

Se conseguirmos voltar a andar em paz em nossas ruas e praças, daremos um extraordinário impulso ao projeto nacional de construir, neste rincão da América, um bastião mundial da tolerância, do pluralismo democrático e do convívio respeitoso com a diferença. O Brasil pode dar muito a si mesmo e ao mundo. Por isso devemos exigir muito de nós mesmos. Devemos exigir até mais do que pensamos, porque ainda não nos expressamos por inteiro na nossa História, porque ainda não cumprimos a grande missão planetária que nos espera.

O Brasil, nesta nova empreitada histórica, social, cultural e econômica, terá de contar, sobretudo, consigo mesmo; terá de pensar com a sua cabeça; andar com as suas próprias pernas; ouvir o que diz o seu coração. E todos vamos ter de aprender a amar com intensidade ainda maior o nosso País, amar a nossa bandeira, amar a nossa luta, amar o nosso povo.

Cada um de nós, brasileiros, sabe que o que fizemos até hoje não foi pouco, mas sabe também que podemos fazer muito mais. Quando olho a minha própria vida de retirante nordestino, de menino que vendia amendoim e laranja no cais de Santos, que se tornou torneiro mecânico e líder sindical, que um dia fundou o Partido dos Trabalhadores e acreditou no que estava fazendo, que agora assume o posto de Supremo Mandatário da Nação, vejo e sei, com toda a clareza e com toda a convicção, que nós podemos muito mais.

E, para isso, basta acreditar em nós mesmos, em nossa força, em nossa capacidade de criar e em nossa disposição para fazer. Estamos começando hoje um novo capítulo na História do Brasil, não como nação submissa, abrindo mão de sua soberania, não como nação injusta, assistindo passivamente ao sofrimento dos mais pobres, mas como nação altiva, nobre, afirmando-se corajosamente no mundo como nação de todos, sem distinção de classe, etnia, sexo e crença.

Este é um país que pode dar, e vai dar, um verdadeiro salto de qualidade. Este é o País do novo milênio, pela sua potência agrícola, pela sua estrutura urbana e industrial, por sua fantástica biodiversidade, por sua riqueza cultural, por seu amor à natureza, pela sua criatividade, por sua competência intelectual e científica, por seu calor humano, pelo seu amor ao novo e à invenção, mas sobretudo pelos dons e poderes do seu povo.

O que nós estamos vivendo hoje neste momento, meus companheiros e minhas companheiras, meus irmãos e minhas irmãs de todo o Brasil, pode ser resumido em poucas palavras: hoje é o dia do reencontro do Brasil consigo mesmo.

Agradeço a Deus por chegar até aonde cheguei. Sou agora o servidor público número um do meu País. Peço a Deus sabedoria para governar, discernimento para julgar, serenidade para administrar, coragem para decidir e um coração do tamanho do Brasil para me sentir unido a cada cidadão e cidadã deste País no dia a dia dos próximos quatro anos.

Viva o povo brasileiro!