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sábado, 2 de novembro de 2013

SOBRE O CURSO DE MEDICINA DA UNISINOS: POLÍTICA E CATEGORIA DOMINANTE

O amigo Nado puxou o debate com bom impacto aqui na rede e me desafiou a defender a nossa cidade. Fez bem isso, vamos lá então...cum grano salis...

Talvez eu vá fugir um pouco da abordagem, mas farei isso para tentar revelar uma faceta aparentemente escondida do problema. Tudo tem uma causa, mas cabe a nós pensar nisso, nos problemas e em suas causas e propor ou pensar em soluções. Mesmo que algumas delas só possam ser realizadas mais adiante. Assim, gostei do que li aqui e das notícias em geral. Do novo curso os sinais são bons. De que a Universidade possa investir nisto demonstra a sua recuperação de uma crise que a ameaçou no início do século XXI. E aliás tenho certa confiança na Universidade, em seus propósitos e em sua contribuição para cidade. E isso inclui desde os êxitos do Tecnosinos aos cursos liberais e às licenciaturas. Não creio que o problema para nós aqui seja ela ser instituição privada. Penso que a criação do curso de medicina é importante, inclusive, para os demais cursos da instituição. Do perfil do curso a notícia que tem vindo é boa. E também é bom ler as opiniões das pessoas postadas de forma respeitosa e refletida sobre assunto tão importante como a saúde pública e a educação superior em São Leopoldo. Mas eu só gostaria de objetar quanto ao empurra-empurra que se apresenta de novo no tratamento desses temas. Quando o problema vem assim: ele é político, mas quando ele é visto com mais atenção, ao meu ver, se percebe que ele é técnico, com déficit político profundo. 

Dizer que a saúde está um caos me parece um exagero e uma desmedida, por outro lado, principalmente porque isso vindo da boca de um estreiante nos assuntos públicos na condição de Secretário municipal da atual gestão municipal, sendo este do mesmo partido do atual prefeito que é médico. Mas esta é a velha mazela da opiniática e do senso comum. Somada ao grande ímpeto de decretar terra arrasada muito comum em quem faz de conta que não possui nenhuma responsabilidade e nem deverá adquirí-la. Muita gente da cidade e da região, isso é muito importante que  se diga, é salva em São Leopoldo por este hospital, esta rede e este Samu, e muitos serviços podem melhorar e evoluir com mais recursos, com melhor gestão, com mais responsabilidade, mas também com debates mais sérios como esse, ou seja, com mais cidadania.     

Que a Unisinos vai criar um curso de medicina é para mim, prima facie, uma excelente notícia para a instituição, para a cidade e também para a rede municipal de saúde e o Hospital Centenário. E dependendo das características desta formação ofertada, a se confirmar o perfil comunitário e preventivo na proposta desta instituição, pode ser mais que isso, pode ser uma excelente notícia para a história da medicina na nossa cidade, de tal modo a reverter uma tendência que já tentamos enfrentar aqui entre 2005 e 2012.

A História da medicina e da saúde em São Leopoldo que ainda não foi contada, merece a nossa melhor apreciação e atenção para se entender como: uma cidade cuja história, importância cultural, econômica e política, uma cidade que foi administrada ora sim e ora não desde o século XIX por médicos e profissionais da saúde, cuja área da saúde sempre foi administrada por médicos locais – exceptuando-se esta importação noticiada nesta semana - não consegue dar conta da tarefa de fazer uma gestão em saúde digna de modelo? Como esta cidade não possui uma rede de saúde confiável para a Unisinos basear seu novo curso universítário? E também precismao entender como, ao mesmo tempo, esta estrutura e e sua forma não possui características exemplares e modelares?

O senso comum tende a dizer que a culpa é da política na área. Mas ai nós temos que perguntar que efetivamente realiza a política  nesta área?

O que há de errado aqui afinal? E não estou falando da história da medicina para desviar do assunto ou do foco. Ao contrário, falo disto porque vejo que a razão para a Unisinos ter que amparar e alicerçar sua nova modalidade de formação em instituição fora da cidade, se deve mesmo ao estado desta arte aqui em São Leopoldo. Ou seja, o problema é de gestão e também de concepção de competência profissional e da classe médica em nossa cidade. Da relação disso com o tipo de serviço ofertado, da relação disso com a agenda da corporação aqui na cidade e, também, com as mazelas que o hospital tem enfrentado historicamente por conta disto. Uma olhada nos processos indenizatórios do Hospital Centenário nos últimos 30 anos ajuda a explicar isto. Não tenho nenhuma dúvida que tem sido drenados recursos valiosos deste hospital para a satisfação e a glória de poucos e não desta instituição. E ao dar uma olhada, também, nas prioridades de gestão e nas coisas realmente realizadas dos últimos 30 anos também nos ajuda a entender isso. Seria bom se reconstituir o que, afinal, cada um fez, cada governo fez pela saúde em São Leopoldo nos últimos 30 anos. E é bom fazer isso com dados, não com avelha opiniática ou com o arrivismo político irresponsável e corrente quando se trata disto em São Leopoldo. Seria bom saber o que, também, foi enfrentado e aprontado neste setor. Não vou apontar culpados aqui, pois não se trata de inquérito policial e já é tarde qualquer cursos de responsabilização dada a velha imunidade corporativa nisto. E não dá para fazer esta história sem relacioná-la ao histórico no entorno da rede privada e ao número de CRMs que a cidade possui. Ou seja, nesta tarefa delicada a evolução de uma rede de saúde municipal, de uma rede privada e de um certo número de profissionais deve ser bem cotejada, percebendo-se com clareza que relações reais ai se fazem presentes na construção e produção do quadro atual.

Uma olhada nas tabelas remuneratórias dos serviços particulares, uma olhada nos relatórios de custos, nos relatórios de gestão e de beneficiários disto no hospital, ajudaria a se ver isto e esta questão não é mesmo partidária, meus amigos e meus queridos concidadãos. É algo que envolve de fato a concepção e o jogo da corporação médica aqui em São Leopoldo. Eu respeito muito os médicos, a profissão médica e a história da nossa cidade. Conheço muitos profissionais e tenho por lembrança um número que deve chegar a quase cem profissionais que adquiriram ao longo destes 40 anos e antes disso certa notoriedade na cidade. Admiro muitos profissionais, mas bem que poderia acontecer um amplo debate com eles sobre os rumos desta arte aqui em nossa cidade, de um lado e de outro lado, também, um debate por parte do nosso povo sobre o que ele também deve fazer para que tenhamos uma saúde melhor nesta cidade.     

Quando o governo federal fez a opção corajosa de criar o Programa Mais Médicos, nos moldes, que criou gerou uma grande discussão e acabou expondo algumas das mazelas da saúde brasileira que andavam intocadas e acabou gerando também uma excessiva exposição ideológica e cultural dos médicos brasileiros. O governo estava respondendo a uma necessidade que como vimos é real no nosso país e ao mesmo tempo pautando a sociedade sobre um debate que ela não fazia: a falta de médicos, onde faltam médicos, porque faltam médicos e como os médicos olham para o seu ofício e suas atribuições. Ficou, na minha opinião,  muito claro o que acontecia no Brasil – e ainda acontece aliás.

Bem, em São Leopoldo é bom que este debate continue para se começar de uma vez por todas a acabar com a perspectiva dos salvadores da pátria e, também, com certas disputas de versão e de posições de corporações, como as entidades médicas e este - poderia dizer -  grande sindicato de médicos leopoldenses que tem exercido seu poder na história política da cidade, com este ou aquele partido.

Com a palavra a corporação, pois é ela que manda e desmanda neste setor mesmo, apesar de às vezes parecer não ter uma consciência de si ou não ter clareza coletiva do seu projeto o que só tem favorecido o atual estado de coisas, numa aparente divisão política, nesta categoria dominante.    


  

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