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terça-feira, 5 de novembro de 2013

CASAS E PRESERVAÇÃO: A DOR QUE ME DÁ E UM EXEMPLO DE CASA PRESERVADA

Bom Dia...aos meus amigos e aos arquitetos e historiadores Cícero Alvarez, Gabriela Scrinz, Maristela Schmidt, Márcio Linck, Fernando Fert, Glaucia Peixoto....

Toda vez que vejo uma casa qualquer sendo demolida me dá uma sensação ruim. Uma sensação que não consigo explicar. Já fiquei pensando sobre isto várias vezes. Se era porque eu havia trabalhado em casas com meu pai fazendo instalações elétricas e nesse mêtier pisei em canteiros de obras, conheci casas na planta e casas reformadas, prédios novos e velhos, aumentos e garagens transformadas. Abri canaletas, valos, coloquei eletrodutos, puxei fios, instalei tomadas, interruptores, suportes. Participei, assim, de reformas, construções e aprendi a cuidar muito da qualidade dos serviços. Ainda sei trabalhar nisto e tenho certo orgulho de ter aprendido isto com meu pai. Testei e aprendi a testar com ele, redes, distribuição de energia, disjuntores e vistoriei conexões, troquei tomadas e etc. Aprendi a fazer um mapa mental da instalação inteira e também a desenhar. Hoje isso aparece as vezes quando faço desenhos de certas teorias ou esquemas de textos e uma pitadinha na lógica também. Vi muitos pedreiros, encanadores, azulejistas, carpinteiros, marceneiros...verdadeiros artistas trabalhando. Aprendi a respeitar muito um trabalho manual bem feito. Vi mestres de obras, vi engenheiros, vi arquitetos debruçados sobre plantas, vistoriando serviços. E também um dia vistoriei serviços acompanhado por técnicos. Vi ajustes, correções em projetos, vi as coisas começarem bem e terminarem mal, vi as coisas começarem mal e terminarem bem. Vi coisas serem feitas e refeitas. Então de certa forma aprendi a levar muito à sério esta atividade chamada construção que envolve a mão e a cabeça de vários trabalhadores e técnicos. Assim, olho para cada casa como produto da mão humana e não gosto de ver demolições de natureza alguma. Depois tive esta breve passagem de dois anos envolvido com patrimônio histórico e, então, descobri e conheci mais razões artísticas, estéticas e históricas para ter este sentimento...além disso tem as razões materiais e do desperdício de matérias primas nesta onda de demolições. Mas eu sei bem que a conta não é esta. Mas fico sempre procurando uma razão para preservar e ou desviando os olhos de algumas demolições que assisto contra minha vontade. Em especial aquelas de casas que freqüentei ou casas em que me criei a observar na paisagem da minha cidade ou de outras cidades pelas quais passei.

Dostoievski construiu um texto dando outras razões para este preservacionismo que passo a citar aqui:

"Para mim, também as casas são velhas amigas. Quando pas­seio, cada uma delas parece correr ao meu encontro na rua: olha-me com todas as suas janelas, dizendo-me algo como isto: «Bom dia! Como estás? Eu vou bem, graças a Deus, muito obrigada! Em Maio vão-me aumentar um andar.» Ou: «Como vais? Amanhã vou entrar em obras.» Ou: «Estive quase a arder e tive bastante medo.» E outras coisas semelhantes.

Tenho algumas preferidas, íntimas. Uma delas tem intenções de fazer uma cura, neste Verão, nas mãos de um arquiteto. Irei vê-la todos os dias, não vá ele matá-la; nunca se sabe. Deus a guarde!

Nunca esquecerei a história de uma linda e pequena casa cor-de-rosa claro. Era uma casinha de pedra, olhava-me com um ar tão afável e mirava tão orgulhosamente as suas frias vizinhas, que o meu coração se alegrava sempre que passava diante dela. Subitamente, na semana passada, ia a passar na rua, olhei para a minha amiga e que ouço eu? Um grito dilacerante: «Pintaram-me de amarelo!» Malandros! Bárbaros! Não tiveram piedade de nada, nem das colunas, nem das cornijas; eis a minha amiga amarelo-canário. Quase tive, por causa disto, um derramamen­to de bílis, e até agora não tive coragem para ir ver a pobrezinha, estropiada, pintalgada com as cores do Celeste Império."

(Noites Brancas, Dostoiévski)

Abaixo uma casa preservada exemplarmente em São Leopoldo. Tirei as fotos especialmente por conta das gateiras em 2012 que era uma necessidade ou possibilidade de solução para as gateiras do Museu Do Rio Dos Sinos. E assim resolvi também tirar umas outras fotos do todo. A casa pertence a um amigo.







Aquele abraço!!!

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