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quarta-feira, 8 de maio de 2013

O MILAGRE GREGO II - O CONHECIMENTO DOS PRÉ-SOCRÁTICOS NO BRASIL PASSA PELO ACESSO AO VOLUME 1 DA COLEÇÃO OS PENSADORES

Sempre olho para as páginas deste livro e fico impressionado com o seu conteúdo.

A coleção Os Pensadores - que foi lançada a partir de 1973 - é talvez uma das maiores contribuições editoriais à história da filosofia no Brasil.

Eu, em especial gosto dos volumes de Capa Dura Azul, mas reconheço que a Edição Branca é mais completa e revisada.

Tomei contato com Sócrates no volume II e com os Pré-Socráticos no volume I. E já disse aqui antes que este contato com Sócrates foi bem precoce, em 1973 com apenas 8 anos.

A leitura do volume dos Pré-socráticos é uma espécie de panorâmica das personagens singulares deste primeiro período da filosofia grega. Em que estes senhores apresentaram seu logos que obteve reconhecimento do logos comunitário através de suas Acmés. Dizia em sala de aula que cada um deles apresentava um candidato a arché, ou no caso de alguns, um candidato físico ou conjunto e outros um candidato formal. E o Deus volta a se apresentar à filosofia também através de alguns deles. Mas devo confessar que a coisa mais incrível para mim é investigar sobre a resposta a pergunta: Porque surgiu o logos na grécia antiga e não antes em outra civilização? Qual a explicação que podemos apresentar para esclarecer e desvendar o milagre grego.

Dai me saem coisas como esta:


O MILAGRE GREGO



Iniciei o ano com o projeto de remodelar e revisar todo o conteúdo de filosofia que tenho trabalhado nos últimos 18 anos. Por isto dediquei parte das férias a velhas leituras e novas abordagens. O primeiro desafio foi encontrar uma abordagem mais adequada do começo ou surgimento da filosofia e, também, provocado pela obra introdutória à filosofia de Gerd Bornheim, encontrar um tratamento mais adequado do encontro com a filosofia. De certa forma estou convencido de que o nosso primeiro encontro com a filosofia marca mesmo nossa relação com ela e por isto, na condição de professor, me convenci definitivamente de que é necessário preparar muitoe sta introduçao à filosofia. Mas sito leva a mais alguns trabalhos de rigor e clareza. São nestes momentos de um itinerário que a gente se percebe limitado e  desafiado. 

Estive pensando muito, então, por modéstia e por uma necessidade de rigor e clareza na minha total impossibilidade de entender e explicar de forma límpida e cristalina o proque do surgimento da filosofia entre os gregos. Assim, durante as minhas férias deste ano me dediquei a este exercício.

Numa situação destas adoto uma certa estratégia de ataque e de movimento inicial ao problema proposto. As vezes eu começo negando tudo que sei ou que aprendi para então dar início a uma reconstrução. Uma mania - digamos assim - meio cartesiana, meio cética, adquirida por conta da necessidade de reconstruir o conhecimento sistematicamente e de manter uma certa vigilância permanente sobre a verdade.



Depois disso, dsete primeiro choque, logo a partir de fevereiro e em março dei uma investigada mais a fundo nas possíveis causas históricas, culturais e políticas do surgimento da filosofia - ou do logos - na grécia antiga. Nas aulas acabei por manter o mistério inicial, num primeiro momento do curso, para agora ao final do mês de abril revelar algumas razões reconhecidas para tal acontecimento. Entre estas destaco:A - as viagens dos gregos e o contato com outras civilizações; B - as atividades comerciais e de navegação pelo mediterrâneo; C - a herança Homérica de uma certa formação cultural - PAIDEIA - da Ilíada e da Odisséia; D - a polis grega e a formação da cidadania através dos debates na ágora e a responsabilidade de um cidadão grego com os destinos de sua pólis; E - e a religião grega e seu panteão com suas características favoráveis à reflexão e à diferenciação dos homens em relação aos deuses, apesar do antropomorfismo.   


Mas mesmo assim preservo aqui a ideia de que há um Milagre Grego, não tanto porque é inexplicável, mas porque é grandioso o salto que o pensamento grego dá em relação aos seus antecedentes sob qualquer forma que se avalie, como diz Michel Serres, o logos grego tem um conjunto, uma totalidade de conhecimentos e informações organizadas como nunca se viu antes. E este caráter abrangente é um dos traços mais distintivos que se percebem mesmo na leitura de fragmentos e da doxografia dos pré-socráticos.



Assim persevero mantendo um elemento milagroso e misterioso deste fenômeno para efeito de provocar a reflexão e a busca das suas causas. No fato de que, bem pensadas as coisas, o surgimento do logos na Grécia é uma daquelas coisas meio inexplicáveis.


Uma das primeiras explicações apostas nos livros sobre o tema é de natureza cultural. Trata-se da força formativa e de organização da mentalidade grega a partir dos poemas de Homero, a Iliada e a Odisséia.


Como explicar para as crianças que os poemas de Homero possuem uma métrica para facilitar - com rimas e etc, a memorização dos rapsodos ou dos aedos e que eles sobreviveram graças a uma - talvez a maior de todas - façanhas de transposição da memória oral para a escritura.


Como explicar que o próprio Homero - essa figura gigantesca talvez não seja um poeta, mas um Deus colocado lá atrás para justificar a unidade e a veracidade moral de certas narrativas fantásticas, mitológicas, cosmogônicas e heróicas.


Aquiles, Helena, Ulisses, e ir desfiando aquelas histórias - não é todo dia que o professor chega na escola disposto a narrar resumidamente e a desafiar radicalmente os jovens a sair do tempo atual para talvez um tempo passado que não tenha nada que ver com o nosso tempo - como afirmam os ignóbeis desenraizados.


Outro aspecto que pode ser tratado a partir dai é a questão religiosa. Não é possível olhar para o Panteão Grego sem vislumbrar ou perceber o fato de que aquilo lá é uma democracia de divindades, com  uma hierarquia de aparência.


Se percebe claramente também que a relação dos homens com os deuses e também com o destino é uma relação de viés, de drible. É o que vejo diretamente acontecendo com Ulisses que passa boa parte dos seus momentos de aventuras tentando evitar a desventura e as vezes conseguindo. Ulisses não é mesmo uma personagem qualquer. Este homem corajoso e engenhoso parece precisar muito escapar das flechas do destino que são lançadas contra ele, desviar o tempo todo das pedras que são jogadas no seu caminho.


Além disso, tem as viagens. Os gregos viajavam. Os gregos conheciam outros povos e transacionavam com outros povos por todo o mar mediterrâneo.



Qualquer pessoa com uma mediana experiência de viagens e de comércio sabe que isto é uma coisa que dá uma talhada na pessoa. Que muda a forma de nos relacionarmos com os estrangeiros e com aqueles que negociamos.



Me assopra ao ouvido aqui um Totem: mas você não podia também contar e narrar os mitos Yorubas?...sim, claro...claro que sim...



Mas também poderia contar e narrar a história de Arjuna...



Mas voltando ao Milagre Grego e o que me impressiona nele e que me levou a escrever isto aqui: como explicar que esta proeza da memória - a passagem dos poemas de Homero ( Iliada e Odisséia), se conecta diretamente com o surgimento da filosofia, sem apelar para o uso da expressão MILAGRE?



Eu não sei....eu não sei....vai ter que ser assim....e alguém vai tentar me convencer de novo de que a filosofia não surgiu na Grécia, de que ela foi importada de um outro lugar mais maravilhoso, mas me lembro de uma pequena nota de um classicista.



Sim, talvez tudo se explique somente pela brisa nova do mediterrâneo que sopra ali em especial na costa de Mileto e o segredo está naquela terra em que um jovem plantou oliveiras e colheu frutos para fazer um azeite e tal.



E que pensando bem, foi a água de lá, foi a combinação daquela lenha no fogo, foi a natureza da pedra e do pó com os quais aqueles homens e mulheres foram feitos e formados pelos seus próprios deuses que levou isto tudo.



Um grande mistério glorioso. Digno de todo meu esforço para espantar, digno de todo meu impeto para surpreender.



Vou clamar muito que aconteça uma tempestade na hora desta aula, para que eu faça o que já fiz um dia: aponte o dedo para a rua.



Para os ventos, arvores balançando e para a chuva e diga: é isto meninos e meninas - é este o motivo de tudo que digo...a força da natureza impeliu os gregos - mais do que qualquer outro povo a procurar razões, causas, explicações.



Ali onde justamente todos os temerários deste mundo viam deuses e viam a possibilidade da perpétua danação.



Estes loucos guardaram na memória um poema de heróis e deuses.



Em que os heróis brigam entre si, em que os deuses brigam com os heróis e os deuses brigam entre eles para simplesmente dizer pára tudo: que agora chegou a hora de começar a pensar.



Chegou a hora de investigar as causas, abandonar os culpados e tentar compreender o que acontece.



Venha tempestade, venha que eu te darei meus olhos, venha que eu te darei meu espanto.



Isso não é um milagre?



Não sei....não sei....não sei...



Não tenho certeza alguma sobre isto.



talvez eu esteja somente poetando aqui.



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