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quarta-feira, 24 de abril de 2013

O SUCESSO DA AMPLIAÇÃO DO ACESSO AOS JOVENS DE BAIXA RENDA AO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL: BALANÇO DE DEZ ANOS DO FIES E DO PROUNI - PEQUENA DISCUSSÃO


Li uma crítica quanto ao números que demonstram o aumento do acesso ao nível superior no Brasil nos últimos dez anos. O gráfico mostra que: houve um incremento de 95 mil alunos no ensino superior para dois milhões em dez anos. É sim um grande número e quantitativamente chama a atenção. A crítica se resume a alegar que isto pode significar uma perda de qualidade e que, resumidamente, pode aumentar o exército de ANALFABETOS DIPLOMADOS.  

Creio Que a crítica faz bem em questionar a qualidade disto. Tenho refletido sobre este processo desde o início do Pro-Uni em 2005, cujo piloto começou aqui em São Leopoldo com apoio da SMED – sim da Secretaria Municipal de Educação - com 1.500 jovens. Lembro sempre do incremento que isto deu na Universidades Particulares. Lembro também da discussão sobre a defesa da escolas públicas e devo reconhecer que fui convencido e também amolecido pela efetiva realidade e  pelos resultados objetivos que garantiram o acesso de milhares de jovens ao ensino superior no Brasil inteiro. Jovens estes que eu sei que se isso não acontecesse não teriam acesso algum. Porque no funil do Vestibular das federais não passam, dada – não à baixa qualidade do seu ensino ou aprendizagem, mas sim a concorrência profissional a estes cursos.

Você pode imaginar como é esta concorrência colocando dois exemplos de jovens aqui em concorrência. Aquele jovem que por força de suas condições culturais e econômicas estuda em uma escola privada de alta qualidade – e posso com todo respeito dar o exemplo do Sinodal aqui de São Leopoldo que é uma escola de excelência. Este jovem cujos pais tem nível superior, que tem uma boa, razoável ou excelente biblioteca em casa, que tem fácil acesso a internet e a bibliografias, uma dinâmica cotidiana que o mantém sem precisar trabalhar 8 horas por dia e que sequer anda de ônibus uma ou duas horas por dia de casa para o trabalho, do trabalho para a escola e da escola para casa, e que fica um ou dois anos fazendo um cursinho pré-vestibular. Este jovem que por fim tem condições, recursos e tempo disponível para ter aulas particulares, tem grandes e inegáveis vantagens na competição e vantagens consideráveis que antes se demonstravam nos acesso, permanência e conclusão dos cursos superiores. Bem estas vantagens foram reduzidas ou atenuadas nos últimos dez anos. Ainda que ele continue com acesso mais fácil ao ensino superior público o outro jovem que antes era impedido de obter formação agora tem esta possibilidade.

Este outro jovem, que é muitas vezes o meu aluno ou aluna por sinal, que começou a trabalhar ali pelos 12 ou 14 anos, que mesmo cursando numa escola pública boa, com bons professores – você se surpreenderia com a qualidade de alguns professores de escolas públicas - existem várias escolas assim no estado e em São Leopoldo, apesar de tudo. Este jovem mesmo trabalhando numa empresa familiar, como é o caso de muitos também ou fazendo um estágio remunerado com jornada de trabalho reduzida, faz um esforço danado para assistir as aulas acordado, cumprir suas tarefas e suplementar suas deficiências de aprendizagem do fundamental  – seja no turno da manhã, seja no turno da tarde. Este jovem economiza dinheiro para a passagem e não vai ter aquele pré-vestibular. Este jovem se for muito bom vai ter muito trabalho para superar aquele jovem lá de cima em um vestibular. E isto que eu não te contei ainda de outros jovens que são também alunos em escola pública no ensino médio e que são muito esforçados e bons e que escrevem muito bem e sabem matemática muito bem. Jovens estes que, no entanto, tem suas famílias assistidas no programa bolsa família, porque a condição dos seus pais é de pobreza real. Mesmo estes jovens, na minha opinião, devem ter acesso ao ensino superior. E eles estão tendo. Já apareceram inclusive dados inegáveis de que as políticas de cotas trouxeram bons resultados também.

Eu aprendi, com a vida, que muitas vezes aqueles que realmente avançam nos estudos, são aqueles para os quais isso significa uma grande conquista. Ao contrário de outros que tem todas as facilidades e que vão fazendo isto meio que num modo automático ou forçados pelos pais em suas escolhas.

E não falo isto por ter qualquer aversão de classe não, falo somente porque é uma diferença que deve ser sempre bem considerada e compreendida quando se estuda a educação e o processo educacional brasileiro. E poderia te levar para dentro das universidades e te mostrar quem são todos eles. Para a gente entender qual é o envolvimento, o sacrifício e o valor simbólico da educação para cada um deles. Como eles todos evoluem e como eles acabam nos surpreendendo de forma maravilhosa com o tempo. Mas também, mesmo assim, com o aumento do acesso há perdas. Mas estas fazem parte de qualquer processo e não são comparativamente maiores hoje do que eram há dez anos atrás não.   

Eu sabia também, na época, que não tinha como ampliar para dois milhões o acesso ao ensino superior público, ainda que este também tenha sido ampliado neste longo período de dez anos com as IFs e também com a expansão da rede de Universidades Federais pelo Brasil. Houve aumento da oferta de vagas públicas e, também, houve, através do PROUNI e do FIES o incremento e o mais intenso aproveitamento da capacidade instalada das universidades particulares. Digo isto Ed forma empírtica por observação com a minha modesta opinião aqui, sem citar nenhum gráfico e nenhuma estatística aliás. Um exemplo foi a própria UNISINOS aqui em São Leopoldo e todas as instituições particulares que estão no eixo da BR-116. Uma lista breve delas deve sinalizar o que digo e permitir a sua verificação.    

Penso sobre estes números e os conheço na realidade os seus efeitos e suas bases. Sou professor há quase 20 anos, minha esposa há 30 anos. Nós percebemos que ocorreram muitas mudanças nestes últimos dez anos na educação em todos os níveis e algumas delas só terão resultados visíveis daqui a dez ou 15 anos.

Sobre a qualidade eu também gosto de discutir. Creio que isso - a qualidade - começa também por um padrão de crítica informada e que conhece como as coisas se dão na vida real. Por exemplo, quando você fala ou outros falam nos ANALFABETOS DIPLOMADOS vocês poderia dar exemplos, mas eu sei que não farão isto. Por elegância e por respeito ao próximo, afinal não podemos explorar as fragilidades ou deficiências dos outros desta forma, sem julgar com isto nós mesmos.

Tenho muitos alunos e ex-alunos cujo principal objetivo aparente é concluir sua formação e obter a conclusão e o diploma seja no ensino médio ou no ensino superior. Isto gera comigo certa luta e debate em sala de aula onde digo que o diploma é fácil, mais importante que isto é adquirir efetivamente as ferramentas, a técnica, os conhecimentos e os métodos básicos e superiores para o exercício desta ou daquela profissão. Mas isto é uma luta.

Eu sou professor, não posso obrigar ninguém a aprender, mas posso oferecer e insistir nisso e é exatamente o que eu faço e sei que a maioria dos educadores faz, agora, a responsabilidade, afinal, pela qualidade da aprendizagem, a profundidade da aquisição do conhecimento e o caráter e honestidade dos alunos e alunas é resultado e depende exclusivamente de uma decisão e auto-orientação deles próprios.

Sim, eu e todos os professores que trabalham arduamente nisto, todos os gestores que se dedicam a isto, os diferentes governos que julgam isto importante e os partidos que defendem propostas e programas para isto devemos fazer a nossa parte, mas isso ainda deixa uma parte decisiva para os cidadãos, os alunos e os pais dos alunos que é fazer bom uso destas oportunidades que a nossa geração e dos nossos pais não teve e que, provavelmente, uma geração depois da nossa também não.

Então quando eu divulgo isto, estes dados positivos de ampliação do acesso ao ensino superior, fico também esperando críticas como as suas para dizer aquilo que estou dizendo aqui.

Em outras palavras digo aqui o que Diogo em sala de aula: O progresso do Brasil depende também de você cidadão. O seu progresso depende também de você. E fico muitas vezes feliz quando encontro alunos e ex-alunos que entendem a sua parte neste jogo e evoluem para uma responsabilidade sobre a qualidade da sua formação e fazem isto com juízo e sabedoria e não com achismos, opiniões ou abordagens superficiais das questões. Parabéns por me provocar neste debate. Você tem muita razão na sua abordagem, mas ela leva, na minha opinião, para mais responsabilidade dos cidadãos sobre este processo.

Por fim, eu comemoro estes números porque vejo também os efeitos deles na realidade dos meus alunos, ex-alunos e muitos amigos que me relatam grandes progressos em todas as áreas, com problemas - o que nunca será eliminado, porque é o ônus verdadeiro de qualquer progresso ou movimento, mas que é real. Eu diria, ou ousaria dizer que estes progressos são sistêmicos, ou seja, que eles não atingem somente uma ponta da sociedade ou somente o sistema educacional. Eles envolvem as relações de mercado, as relações culturais, a produção de bens culturais e também as condições políticas da democracia brasileira.  

Não é por força mágica que o PIB brasileiro cresceu e que, apesar da ignorância de muitos sobre isto ou má-fé de outros, as universidades brasileiras progrediram nos últimos anos, junto com a ciência brasileira. O pré-sal e o PAC - ainda que muitos discutam isto por uma necessidade de impugnação política dos avanços - para dar dois exemplos é somente a pontinha deste progresso e olha que já é um progresso estrondoso do ponto de vista econômico, político, cultural, tecnológico e científico. Esta história vai ser melhor contada daqui a uns dez anos. Mas avançamos sim. Não tenho nenhuma dúvida quanto a isto.

Assim, eu relaciono este progresso sim, ao fato de que o PIB do Brasil ultrapassou o PIB da Inglaterra e que, portanto, agora o Brasil é a sexta economia do mundo e também a uma previsão otimista, mas bem plausível, de que vamos ultrapassar logo, logo a França, chegando a ser a quinta economia do mundo e, tudo isto, com melhorias reais nas condições de vida do povo e com mais distribuição de renda. 

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