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sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

DISCURSO EM PRIMEIRA PESSOA: ANOTAÇÃO

Bom Dia....

Há uma motivação bem pessoal para filosofar, escrever livros, narrar histórias, traçar crônicas do cotidiano, construir poemas com estruturas invisíveis e significados superiores ou expor experiências pessoais seja aqui, seja em um jornal, seja em praça pública.

Quando chamamos isto de motivação pessoal, talvez tenhamos que equilibrar mais as coisas sobre isto. Isto não significa que o objeto de interesse é exclusivamente pessoal. Deve-se pensar mais sobre isto. Tendo a imaginar que o alvo é muito mais interessante do que meras mazelas pessoais ou quizilias particulares.

Penso que mesmo o ator que representa um outro, uma personagem fictícia, exibe uma parte de si mesmo ao fazê-lo.

Mas não há nada de errado nisto com ele. Nenhum pingo de culpa pode ter o ator, o escritor ou o filósofo em relação a isto.

E quanto mais parece que ele se despiu da sua vaidade para fazê-lo ou se compraz em seu narcisismo com isto, mais ele nos engana no seu ardil.

Esta é uma primeira impressão altamente enganadora.

O discurso em primeira pessoa tem esta característica fundamental ou provoca nossa simpatia instantânea ou nossa aversão imediata...tudo se passa como se o que estivesse sendo posto ou devesse ser absolutamente genial ou absolutamente horrível aos meus olhos...não há - na maior parte das vezes - uma tomada de posição média sobre este discurso.

Mas deveríamos nos perguntar com um pouco mais de reflexão sobre o que mesmo em nós fica revoltado ou embevecido neste discurso.

Eu tendo a escrever muito na primeira pessoa.

E tendo, a partir de um certo momento e de uma certa altura da minha trajetória e itinerário, também a fazê-lo tanto em minhas reflexões mais filosóficas quanto em meus relatos e opiniões mais pessoais seja sobre minhas vivências e memórias seja sobre minhas experiências emocionais ou sentimentais.

Em meus textos tendo a  ficar desabrido. Diria assim, me confessando o tempo todo sem culpa e sem um pingo de mágoa ou rancor. E não por vaidade. 

Mas não faço isto para me perder, nem para me exibir, mas sim para encontrar em palavras meus sentimentos, decifrá-los e compreendê-los.

Ao publicar isto não julgo que minha vida é o centro de toda a existência, nem me vejo como um umbigo do mundo, mas me compreendo e compreendo muitas pessoas ao fazê-lo...e me custa muito este exercício...fico imaginando um músico com uma partitura difícil tentando executá-la da forma mais honesta e sincera possível.

E da forma mais exímia também..

Me sinto assim ao escrever.

Mesmo agora escrevo pensando na minha primeira idéia inicial e que agora fica sendo a última sobre a qual vou me aproximando com esta narrativa: num discurso filosófico. 

Nada pode ser mais enganador do que o uso da primeira pessoa: temos dois exemplos magníficos e clássicos disto em Santo Agostinho de Hipona - As Confissões, e em René Descartes - As Meditações de Primeira Filosofia ou também o Discurso do Método, é um equívoco julgar que ali só temos uma narrativa biográfica de uma primeira pessoa, na verdade temos nestes dois textos e em diversos outros uma narrativa de um sujeito que é per si, mais universal ou transcendental do que à primeira vista.

O Eu que se apresenta ali é o Eu de qualquer um de nós bem pensadas as coisas.

Porque ao fazer uma narrativa desta forma eles nos permitem ter a mesma experiência de reflexão e de auto-reflexão que eles estão tendo para escrever aquelas linhas maravilhosas..estou bem longe disto em diversos sentidos, mas me sinto como muitas pessoas que aqui escrevem sobre suas coisas ou sobre tudo que lhes dá na telha..tentando ser mais humano e mais universal possível....boa parte daquilo que é narrado poderia ser vivido e muitas vezes é vivido por cada um de nós em algum momento de nossa vida..

Me parece fundamental que a principal questão ai não é quem fala, ou quem escreve, mas sim aquilo que é escrito e o sentido disto para a vida de todos nós.

Assim, talvez seja necessário esquecer desta pessoa e ver nela o que é universal e transitivo a todos nós.

Da mesma forma que temos que ler os grandes filósofos e os grandes escritores com este mesmo espírito..e isto não é um pedido, nem uma sugestão.

È somente uma avaliação sobre esta pequena dificuldade interpretativa que gera tanta celeuma gratuita  e improdutiva nestes temas pessoais e coletivos.

Nós podemos nos entender melhor e escrever é sim uma proposta de diálogo e reflexão.

Mesmo quando se usa a primeira pessoa..

Cabe a cada de nós entender o seu papel neste diálogo e fazer a nossa parte para que ou a conversa continue o se abandone de vez esta possibilidade aberta com uma proposta destas.

Há mais filosofia e sabedoria nestas palavras "pessoais" e eu fico muio feliz quando consigo encontrá-las e descobri-las após uma esforço constante e persistente de reflexão ao que me dedico todos os dias por opção e escolha pessoal de longa data.

Toda vez que escuto uma grande cantora e um grande cantor fico pensando em quantas vezes ele fez e fez de novo a mesma nota e a mesma canção até chegar a este ponto em que nos embevecemos com sua performance...quantos ensaios.

E é maravilhoso poder escutar isso, assim como me é maravilhoso conseguir escrever isto....outro dia contínuo...

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