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segunda-feira, 6 de agosto de 2012

PORQUE NÃO JULGO CRENÇAS?

Postei uma imagem no meu Facebook que gerou uma certa discussão.

A imagem singela e carregada de sentidos com o seguinte texto

“Deus não te prometeu uma vida sem problemas...

(a imagem de Daniel na cova dos leões)

Mas prometeu que se tiveres fé, te ajudará a resolvê-los.

Quero mais é ser feliz! (na vertical)”

Sempre digo algo mais ou menos assim: a gente precisa conseguir enfrentar os cavacos do ofício e os percalços da vida. Não há nenhuma profissão cujo tarefa não envolva superar dificuldades e não há nenhuma biografia que não tenha seus obstáculos.

Um aluno me perguntou se eu acreditava em Deus.

Eu respondi assim: “não discuto crenças...é uma discussão que não resolve nenhum problema...sou um ateu abalado digamos assim...e é só...”

Isto aborrece um pouco as pessoas que ficam patrulhando tua fé.

O aluno me respondeu: somos dois!

Um amigo, por seu lado, me respondeu assim:

“A palavra crença não se remete somente na crença de um criador; que isso para mim é obvio, pois tudo o que existe, e em perfeita harmonia no Universo, não pode ser obra do acaso. Mas crença é acreditar em algo. Se tu dizes que não discute crenças, acreditas no nada? E a tua ideologia política também é nada? Abraço...”


Posto isto, respondi assim:

Aprendi que quem cobra confissões ou exige justificativas de opções pessoais dificilmente aceita opções pessoais diferentes das suas.

Já desisti de julgar as crenças das pessoas a muito tempo.

Outra coisa é simplesmente usar a argumentação ou toda a tua capacidade argumentativa para tentar provar que o outro está errado ou que está em contradição.

E o que  segue agora são excertos das minhas respostas e propostas de diálogo organizados em forma de texto.

Porque você precisa provar que o outro está errado? Com que direito? Qual o seu propósito?

E não culpo nem ideologias nem religiões pelos atos das pessoas.

Age certo quem tem a percepção correta e a sensibilidade correta das situações e pouco isso tem haver com suas ideias ou crenças.

A tentativa de emparedar as pessoas por suas crenças me é muito ofensiva.

Cada um deve saber, da melhor forma possível, escolher as suas próprias crenças, sejam elas políticas ou religiosas.

E se não conseguir não pode ser condenado.

Já tentou selecionar de todas as tuas crenças quais merecem revisão ou quais são mais sólidas. Esta tarefa cartesiana pertence a cada um de nós. Mas disso não se segue que cada um de nós será feliz nesta empreitada.

As escolhas de crenças, a eleição das melhores crenças a adesão a crenças é algo extremamente pessoal mesmo. Não posso culpar a televisão, a igreja, o partido político, os professores, os pais ou as más influências o tempo todo. O sujeito com maior ou menor consciência consulta seu coração e pensa e vai lá e escolhe.

Não me cabe julgar estas escolhas.

Posso ter opinião, mas não juízo a respeito destas escolhas.

Posso estar errado nesta matéria, por mais que eu saiba A ou saiba B.

Um velho colega dizia que há uma assimetria entre certas crenças nossas. Por exemplo, podemos dominar a física teórica e, no entanto, não ser capaz realizar operações triviais por simplesmente não ter certas crenças.

O tema das promessas de Deus, também remete ao nosso tema sobre as expectativas que temos em relação aos outros.

E isso também é uma questão de crença.

Ou seja, nossa convicção sobre as promessas de Deus é tão plausível quanto nossas expectativas em relação ao próximo. Quer dizer podemos acabar frustrados e sendo Deus ou o próximo, não a grandeza nem nível superior de garantia em relação a isto.

Este é um argumento que nos leva para o terreno do ceticismo e do ateísmo, mas ele não é resultado da maldade nossa ou de nossa imoralidade, simplesmente é plausível e contrasta radicalmente com a crença e as apostas de muitos amigos nossos.

Compreender, nesta matéria é, as vezes,  muito mais importante do que julgar.

Se eu compreendo que pode haver esta frustração da minha expectativa e se eu aceito isto, posso renunciar ao julgamento sem me sentir obrigado a condenações ou avaliações de intencionalidade.

Sobre a importância fundamental de uma crença eu diria que eu creio sim que devo crer em algo, devo ter alguma esperança para conseguir prosseguir andando neste grande vale de lágrimas que é o mundo.

Para resolver os problemas.

Penso sem arrogância e com muita humildade que na minha vida tenho conseguido coisas maravilhosas acreditando na força do trabalho e também acreditando nas pessoas.

Mesmo quando as pessoas erram, compreendendo seus erros, consigo melhores resultados com elas do que as condenando.

Não seria mais professor se não tivesse fé na educação.

Com todos os problemas que a educação possa ter.

A única prova que eu conheço para este tema da importância das crenças fundamentais nas quais apostamos é a vida prática.

E nesta matéria cada um sabe de si porque boa parte delas pertencem muito à intimidade da gente. Não saímos por ai dando discurso sobre isto.

Quando alguém não está entendendo o que digo aqui fico me esforçando para esclarecer mais.

Pelo menos a acepção e os usos que dei aqui a expressões como crença e ou fé.

É um bom debate filosófico se o viés é cognitivo, mas é comum as pessoas usarem, segundo entendo, uma acepção que pula do domínio do conhecido - da diferença entre saber ou não saber ( com a confusão sobre crença e saber aí) para o domínio do ser do que é ou não é, ou do ser e do nada.

Suponho que esta resposta e este discurso subestima este detalhe: que você tenta refutar o que digo apelando para o tema da política por algum motivo de sua própria preferência ou predileção.

Não tem problema. Devemos respeito igual ao interlocutor.

Vejo certa arrogância desnecessária na pretensão dele de tentar encontrar uma contradição em mim quanto ao tema de não discutir as crenças privadas ou pessoais das pessoas.

Jamais devemos renunciar ao ato de julgar, em matéria de conhecimento, julgamos sim, assim como podemos julgar racionalmente se a aplicação de certos conceitos é pertinente.

E julgar pelo conceito de crença ou o conceito de crença que cada um de nós foi capaz de construir ou compreender. Julga uma crença é o que, aliás, me parece estranho quando se está confundindo ser e conhecer ou ser e pensar.

Estou copiando e relendo o que dizes para não cometer nenhuma injustiça. Mas veja bem a expressão que você usou: "Mas crença é acreditar em algo. Se tu dizes que não discute crenças, acreditas no nada?" Quando digo que não discuto crenças quer dizer que só discuto aquilo que é matéria de conhecimento. E isso não me faz acreditar no nada, quanto menos ainda no nada político.

Apesar de qualquer diferença que pode haver entre minhas crenças religiosas e políticas e as sua, te afirmo que ainda acredito sim e conheço sim muitas coisas que são melhores que outras.

E não acho tolice que meu juízo sobre o que é melhor ou pior tem natureza ou a pretensão de ser superior a uma mera crença.

Trata-se aí de conhecimento, não de mera opinião ou crença.

É legal o debate que nos leva a pensar também e de novo no fato (olha só) de que todo conhecimento tem em si uma crença, mas que nem toda crença é um conhecimento.

Ou seja, a verdade de nossas proposições não decorre da nossa mera compreensão delas.

Mas o debate aqui caminha cada vez mais para detalhes mais técnicos de filosofia e não quero levar até este ponto sem o teu consentimento.
Conduzir um interlocutor contra a sua vontade para dentro de um esquema lógico é um abuso no diálogo.

Trazer para o terreno do debate filosófico deixa as coisas mais difíceis para a gente, porque daí não dá para ter uma compreensão genérica ou carregada de concessões conceituais que são inaceitáveis de um ponto de vista lógico mínimo.

Espero que o que disse acima esclareça este ponto.

Porque neste caso não é só questão de opinião não.

Ou você confundiu crença e conhecimento ou você nâo confundiu.

Ficar forçando uma prova exige levarmos o debate para uma disputa de razão. E isto vai acabar refutando um dos lados então.

Eu estava aliviando, desde o início da discissão, em relação às crenças religiosas ou preferenciais das pessoas e vir me refutar por isto, exigindo uma crença na divindade não nos ajuda em nada.

Não tenho nenhuma dúvida sobre isto.

Qualquer sujeito pensante tem plenas condições de debater qualquer coisa assim como eu, mas isto não significa que o que importa aqui é quem tem razão.

O que nos importa aqui é o que é racional.

Para ser mais correto não discuto crenças que não precisam ser demonstradas como conhecimento.

As vezes a gente escreve mais e as vezes a gente escreve menos do que deveria.

Se você concorda que todo conhecimento é uma crença em algum sentido, então você admite uma das premissas aqui.

E agora, se você concorda que nem toda crença ou fé é uma questão de conhecimento e que as que não são questão de conhecimento não devem ser discutidas por nós, então, por fim, você deve reconhecer que minha afirmação:

Não discuto crenças!

Corresponde sim a uma posição sensata e que não há nenhuma contradição nisto.

Temos que botar Deus e Cristo fora disso.

Não quero negar nem afirmar o criador.

Porque acho que isso cabe a cada um crer ou não crer. É uma matéria de crença.

E ninguém tem o direito de me impor a necessidade de fazê-lo.

Acabar por ficar recaindo na tua prórpia fé e querer converter o outro não é uma atitrude de respeito com as crenças alheias.

Cada um pode acreditar no que quiser.

Neste sentido não posso julgar tuas crenças.

E o crente pode também acreditar tranquilamente que sabe com certeza de todo o seu poder.

Mas ele continuará com isso, esta crença e esta pregação, não porque é importante para mim, mas sim porque é importante para ele.

Não posso atestar as tuas crenças.

E você não pode atestar as minhas.

Pois não tratamos aqui de testemunhos de fé.

Mas sim do fato que cada um de nós possui suas crenças.

Independente do contraste ou da força que cada um ergue a favor ou contra elas.

Forçar a barra não tem nenhum efeito aqui.

E isto acabou de me ajudar a mostrar que sim, que não posso discutir tuas crenças.

Repito: não discuto crenças...é uma discussão que não resolve nenhum problema....sou um ateu abalado digamos assim...e é só..

Quero, por fim, fazer um paralelo aqui entre este debate e Daniel na cova dos leões.

Aquela imagem que aparece lá em cima no início.

Ele só foi parar ali porque tinha fé.

E só saiu dali porque também tinha fé.

Só entro neste debate, porque tento compreender e só quero sair dele com uma compreensão.

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