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domingo, 10 de abril de 2011

A TRAGÉDIA DO REALENGO, ESCOLA ESPECIAL, DESARMAMENTO E DOENÇAS MENTAIS

Esta semana a bruxa esteve solta e atacando gravemente a educação e a sociedade brasileira. Em São Leopoldo mesmo tivemos uma escola fechada por conta de brigas que ameaçavam a paz dos estudantes e educadores desta escola. Falo aqui da Escola Municipal Padre Orestes Stragliotto. Digo a bruxa, porque não quero colocar a culpa em alguém particular, nem adotar o raciocínio simplista de que o problema é da falta de segurança ou falta da proteção da escola e dos cidadãos.

O problema é da sociedade brasileira que precisa tomar atitudes diferentes das que tem tomado em relação a diversos assuntos, entre eles o tema do desarmamento, a relação com a escola dos seus filhos, a forma como tratamos as doenças mentais e a tolerância permissiva, ao meu ver, com discursos religiosos que dividem o mundo entre pecadores e puros, por exemplo, fazendo promessa de salvação.

Para começar li em jornais, vi na televisão, e ouvi no rádio algo sobre três ou quatro eventos tristes nesta semana última semana e assisti e acompanhei, com muito pesar e lamento, os desdobramentos da notícia deste golpe cruel em uma escola especial do Realengo. Este massacre foi terrível. Primeiro, porque as vitimas não tiveram nenhuma alternativa frente à execução premeditada de um psicopata. Segundo, porque acentuou um sentimento que já vaga na sociedade brasileira de que a violência atingiu limites nunca antes vistos. O que gera terror, pânico e muita dor na sociedade.

Me solidarizo com os educadores do Rio de Janeiro e de todo o Brasil que tem sofrido em diversas circunstâncias e peço que sejamos mais fortes do que já temos sido e que a sabedoria nos dê luz para enfrentar estas situações com atenção e muito carinho pelo próximo. E peço que os pais e os alunos tomem uma atitude decisiva também em relação as suas responsabilidades com a escola. A melhor proteção que a escola pode receber é a participação e a atuação de toda a comunidade no seu espaço escolar. A intensificação do relacionamento da comunidade com os trabalhadores em educação pode sim alterar os sinais de violência e aumentar a proteção do espaço escolar e da comunidade.

Nós professores e professoras, educadores e funcionários de escola, entramos todos os dias nas escolas do Brasil e tentamos dar o máximo de nós. Muitas vezes sofremos com insucessos e frustrações e muitas vezes vemos sucessos e belos resultados serem desprezados e tratados como coisa comum.

É preciso dizer que muitos de nós conseguem realizar verdadeiros milagres individuais e coletivos, considerando as dificuldades que enfrentamos e a incompreensão generalizada hoje da responsabilidade dos pais com o ambiente escolar.

Mas também precisamos aprender todos os dias a conviver com a falha e as frustrações. E algumas destas frustrações são as vezes grandes e trágicas como esta. Me coloco no lugar das ex-professoras deste jovem que massacrou os alunos, devem estar arrasadas e se sentindo culpadas e vão passar muito tempo de suas vidas convivendo com a dor, o luto e a culpa. Uma culpa que não é delas, mas que dará muito trabalho para ser extraída do coração e da consciência delas. Será difícil para elas escapar da encruzilhada imposta entre o poder que elas tem de educar e humanizar e os descaminhos que se deram com este jovem que o levaram insanamente a esta tragédia.

Por isto um dia escrevi que vamos levando e aprendendo a desistir de desistir durante toda a nossa carreira. Porque é uma processo de resistência contínua em que mantemos a esperança nos resultados do nosso trabalho e superamos as frustrações e eventualmente os golpes duros que sofremos ao longo da nossa carreira.

Temos quase todos os educadores conhecimento do fato de que muitos desistem ao longo desta jornada e, muitas vezes, bem no começo dela. Já vi casos de desistência no estágio, após a primeira observação de sala de aula, na primeira semana de exercício profissional e alguns desistem, mas ficam. O que é uma pena porque ficam desolados e sofrendo durante esta permanência. Não há como culpar ou condenar alguém por não ter tolerância a certas frustrações, ambientes, situações e acabar por desitir no enfrentamento destas. Aqui tratamos de algo relacionado àquelas habilidades que não são igualmente distribuídas entre os homens tal como inteligência emocional ou resiliência “a capacidade de um indivíduo em possuir uma conduta sã num ambiente insano, ou seja, a capacidade do indivíduo sobrepor-se e construir-se positivamente frente as adversidades”.

Mas quero aqui dizer que todos aqueles que não desistem merecem todo o nosso respeito e admiração. E em momentos como estes precisam ser apoiados e reforçados por conta do que as tarefas que se colocam para eles agora, em especial, aos educadores da Escola do Realengo, são superiores aquilo que todos nós estávamos preparados. O luto e a dor são duas delas que nos desafiam mais. E que aqueles que suportam esta dor, ao seu modo, saberão continuar educando e aprendendo a fazer mais humanidade e mais vida no Brasil.

Este terrível evento é tão grave que encobre a vitória da luta pela valorização profissional ontem no Supremo Tribunal Federal em sentença sobre o Piso Salarial Nacional, mesmo vencendo a luta legal pelo piso salarial profissional, mal podemos comemorar esta vitória pois que sobreveio um golpe em toda a educação brasileira.

A coincidência é que eu iniciei a semana com uma reunião sobre educação especial e/ou educação inclusiva. Se você ainda não sabe o que significa isto te direi. É chamada de educação especial aquele regime educacional que trata somente de alunos com necessidades educacionais especiais. E é chamada de educação inclusiva aquela que inclui os alunos portadores de deficiências, necessidades especiais, sejam estas genéticas ou adquiridas, na escola regular. Devemos anotar aqui que alguns alunos e alunas tem necessidades especiais que não são atendidas na escola regular por conta da escala ou nível de prejuízo, motor, cognitivo ou mental de que são portadores.

Tenho discutido muito o tema da deficiência nos últimos sete anos desde que iniciamos a gestão na educação municipal em 2005 e, mesmo antes, no processo de discussão do programa de governo local. Um dos desafios colocados a mesa foi a escola de surdos e outro o tema da acessibilidade aos alunos cadeirantes. Mas estes são os problemas mais visíveis. Ficam menos visíveis todas as outras deficiências mais singulares e menos generalizadas entre os alunos da rede municipal e estadual. Confesso que sempre enfrentamos este tema com dificuldade, e que, aliás, qualquer um que enfrentá-lo terá dificuldades sérias, porquanto, sanando a acessibilidade subsiste também os outros temas que requerem especialização pedagógica para servidores em geral, supervisores, orientadores e educadores nas escolas.

Também me preocupo tanto com a manutenção das escolas especiais para os casos que requerem um cuidado e atenção em escala mais especializada, como quanto ao fato de que precisamos dar maior atenção para alternativas nas escolas regulares. Ou seja, é preciso criar suporte e generalizar certos conhecimentos sobre estas condições especiais ou de deficiência. Você não trata alguém de acordo com a sua singularidade se não reconhecer esta singularidade. Neste sentido, é importante aos educadores terem o conhecimento de laudos e de procedimentos alternativos e métodos alternativos adequados a cada condição. E entre estes métodos alternativos garantir atividades especializadas e adaptadas a estas condições que dêem conta delas.

Por exemplo: viabilizar atividades em contra-turno para os deficientes de inclusão e também envolver mais a família com o processo escolar destes alunos. Devemos incluir aí a perspectiva de contribuir para a inclusão também dos pais em outras etapas e suas etapas próprias de aprendizagem. A inclusão sempre é um tema que se bem respondido, ajuda a escola normal a dar conta de suas tarefas com maior humanização e com ganhos sociais relevantes.

Quanto ao tema das doenças mentais, às psicoses e outras manias, temos que refletir seriamente em que sentido estamos dando atenção adequada a isto. Não creio ser razoável dizer de que porque os serviços são disponíveis, basta aos doentes, parentes ou pacientes procurá-los. Creio que estamos num ambiente de laissez-faire no que toca a doenças mentais e o resultado disto é somente uma parcela inteira da população portadora de alguma forma de sofrimento mental desassistida e sem nenhum acompanhamento especializado. Isto não pode continuar assim.

Quanto a outro tema que sobressai desta tragédia, a questão do desarmamento quero terminar falando do que li e ouvi nos desdobramentos.

Veja-se Eduardo Valdoski no twitter: "A tragédia no Rio deve ser faturada na conta de quem foi contra o desarmamento no plebiscito de 2005"

Reproduzi no meu feice isto por conta da evidência deste tema para a sociedade. Claro, só fala da segurança pública e do papel do estado em supri-la, mas não relacionam isto a suas atitudes e escolhas políticas no tema.

Quando tem a vez de fazer sua parte votaram sim no plebiscito das armas. Seduzidos por uma apelação absurda de que o cidadão deve ter o direito às suas armas porque se o estado não funciona deve se defender com suas próprias mãos e armas. Ora, para concluir isto aqui mesmo: defender-se de si mesmo, é claro.

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