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domingo, 4 de abril de 2010

O HOMEM UMA INVENÇÃO RECENTE - MICHEL FOUCAULT

"Uma coisa em todo caso é certa: é que o homem não é o mais velho e nem o mais constante problema que se tenha colocado ao saber humano (...)

O homem é uma invenção cuja recente data a arqueologia de nosso pensamento mostra facilmente. E talvez o fim próximo.

Se estas disposições viessem a desaparecer tal como apareceram, se, por algum acontecimento de que podemos quando muito pressentir a possibilidade, mas de que nesse momento não conhecemos ainda nem a forma nem a promessa, se desvanecessem, como aconteceu, na curva do século XVIII, como solo do pensamento clássico — então se pode apostar que o homem se desvaneceria, como, na orla do mar ( na beira do mar, n.m.), um rosto na areia".

Michel Foucault. As Palavras e as Coisas

NOTA DO BLOG - Sempre me lembrarei de uma aula magistral do Professor Balthazar sobre filosofia moderna que ia desaguar em Descartes e as Ilusões da Razão, em que ele inicia no primeiro dia do curso com esta citação (sem a fonte) gerando na mente dos pupilos um sei-lá-o-quê . Todods embasbacados porque julgavam que o professor era um racionalista de primeira linha e de repente ele nos tasca com esta gigantesca ignorãncia do homem sobre si mesmo.

Mais tarde se descobriu de onde vinha esta expressão "o homem é uma invenção recente" em que ele emendava dizendo que a razão humana mal ocupa-se de si mesma ainda em menos de 300 anos.

À época a expressão nos suscitou um problema básico de epistemologia: então o que é que Sócrates queria dizer com o conhece-te a ti mesmo. Mais tarde fui entender que não é de uma antropologia que se fala aí não. Ecce Homo.

O problema é que antes de tematizar um homem como problema a nossa episteme tratou mais de Deus e da Natureza. E mesmo após o século de Descartes que marca o surgimento do homem como ocupação e tematização filosófica me pareec que ainda estamos engatinhando nesta questão.

E não disse mada aqui sobre As Palavras e as Coisas de Michel Foucault obra na qual esta passagem é suas últimas e derradeiras linhas conclusivas, que merece mais atenção hoje, não pela originalidade, mas por seus extraordinários efeitos em ciências sociais e outras epistemes.


Agora Chega.

Avant les infants

Um comentário:

  1. A teoria de Foucault, vinte anos após sua morte, causa-nos um espanto que será ainda maior quando pudermos perceber a enormidade do alcance de sua investigação como diagnóstico do que vivemos, do que somos, do que deixamos de ser, do modo como inventamos a nós mesmos.

    Eu estou estudando o Foucault e gostaria de ver mais post sobre ele. É um autor imprescindível de conhecer.

    òtimo Blog. Parabéns! [Admarino Júnior]

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