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sábado, 10 de outubro de 2009

ABOBADO DA ENCHENTE

Abobado da enchente!!!

Em meio as tragédias que os fenômenos naturais provocam nos dias de hoje e desde tempos imemoriais, as cheias dos rios e as enchentes sobre as cidades que destroem moradias, vidas e arruinam patrimônios e privam pessoas de condições dignas de vida e subsistência tem outras histórias mais peculiares com conotações irônicas e engraçadas que geram designações e expressões populares. O abobado da enchente é com certeza uma destas expressões.

Esta é uma daquelas designações que tem um misto de verdade e ironia embutidos em sua significação. Para quem nasceu em 1965 que nem eu, e em 1941 como o meu pai, deve até ter mais significado. rsss. Se bem que o meu pai nasceu em Vacaria, lá em cima na serra o que num vale como caso de nascido na enchente. E eu, por meu turno, nasci em São Leopoldo em janeiro quando dita cuja enchente foi no mesmo ano em julho. Abobado da Enchente é então uma daquelas expressões que traz como outras um complexo de significações.

A sua origem me é razoavelmente misteriosa. Mas eu tenho memória do seu uso na minha cidade natal, São Leopoldo, a qual, justamente viveu diversas enchentes ao longo da sua história, sendo famosas e conhecidas, historicamente e popularmente, as de 1941, 1965, 1986 e 2008. Nestas enchentes temos aquela tradicional figura - que pode ser homem, mulher, idoso, criança ou qualquer outra coisa, da pessoa que fica olhando a água subir e não sabe bem o que fazer para enfrentar esta triste realidade, não sabe se vai ou se fica, não sabe se enfrenta a situação ou se entra em crise e dramatiza. Devo supor que muitas pessoas já sofreram isto e eu mesmo pelo menos em uma circunstância assisti a água subir até a soleira da casa da minha mãe lá na Scharlau - ou melhor ali no Jardim Viaduto.

Tive experiências interessantes com enchentes já, inclusive em outra cidade, em Eldorado dos Sul tive que erguer toda a mobilia da casa da minha ex-esposa e de minha filha e dormi inclusive duas noites com água dentro de casa até a metade da parede sobre os móveis erguidos. Se você pensar neste imagem entendera que o Abobado da Enchente as vezes é também aquele que não entra em desespero também. Neste sentido, vejo algo curioso aí. De uma lado tem o boca aberta que fica sem saber o fazer e de outro lado tem o cara que acha que está fazendo o certo, porque confia no seu taco, porque conhece o limite do rio. Ou no caso de Eldorado do Sul eu tive que confiar num depoimento dado por uma pessoa de lá que já tinha visto enchentes na região nos últimos quarenta anos e que nunca tinha visto a bacia do Lago Guaíba - incluso aí os Rios Graavataí, Sinos, Jacuí e etc subir acima de uma altura tal do marco da rodovia. Bem, eu acreditei e fiquei lá. Mas hoje me sinto um Abobado da Enchente igual.

Penso que deveríamos escrever um livro só de depoimentos sobre as enchentes de São Leopoldo, porque existem várias lendas urbanas a respeito das enchentes, desde aquela bem conhecida do povo da zona norte de que vão abrir as comportas lá em cima nas cabeceiras do rio e que todo mundo vai ficar em baixo da água, passando pelo boato clássico dos últimos anos de que o dique vai estourar e que virá uma grande tragédia disto. O fato é que é generalizado o pânico em qualquer circunstãncia de cheia do Rio dos Sinos. Outro fato é que tem o elemento ou capítulo de curiosidade mórbida e de saudosismo também. Basta o rio encher um pouco e quase todo mundo que é natural de São Leopoldo, e pelo visto a moda pegou os de fora também, vai lá ver o rio o que gera desde um engarrafamento no trânsito das três pontes até um afluxo de pessoas para as margens do rio.

Neste ano ocorreu uma enchente também agora em menos de uma semana que foi antecedidada por outra, há poucas semanas.

Curiosamente as enchentes que a gente vive hoje em São Leopoldo atingem basicamente três pequenas regiões da cidade, uma na famosa Rua das Camélias (ao lado esquerdo de quem vai pela Avenida Imperatriz Dona Leopoldina em direção ao Bairro Feitoria, na altura do Bairro Pinheiro, onde foi feito um loteamento abaixo do nivel dos diques de contenção das cheias, que foram construídos entre 1974 e 1991; outra região é no bairro São Geraldo pela mesma razão e, por fim, naquela região onde hoje existe uma ilha artificial criada com a conclusão das obras dos diques entre a Argamassa Leopoldense (onde você encontra o que quiser em ferragens), passando pela Loja de Gás, Semmam, Clube Humaitá e algumas moradias que ficaram como que remanescentes na ilha que vai da Argamassa até depois da BR-116 ou segunda ponte.

Aliás vale a nota aqui, em São Leopoldo temos três pontes que atravessam o Rio dos Sinos no sentido norte-sul ou vive e versa.

A velha ponte de ferro ou ponte velha já centenária preservada como patrimônio histórico e que teve sua altura aumentada em 1 metro e cinquenta se não me engano em relação a construção original e em virtude do plano e da altura dos diques pós 1974.

A ponte da BR-116 que existe desde meados do século 20, cuja data de construção vou pesquisar e acrescentar aqui depois.

E a ponte nova inaugurada nos anos 90 e ao lado do Ginásio Municipal, aliás entre este e os fundos da Sede do Clube Tiradentes e os fundos da Receita Federal, ali onde ficava uma empresa que eu conhecia pelo nome de ALPLAC na minha infância.

Também deve constar, a ponte de ferro da antiga estrada de ferro que ligava São Leopoldo a Novo Hamburgo ali na Avenida Mauá, justamente ao lado de onde está sendo erguida a extensão da Linha do Trensurb e que será preservada pelo visto nas fotos de divulgação que vemos na capa da Rua Grande (número 2065 de setembro de 2009).

Bem, vezenquando eu me sinto um ABOBADO DA ENCHENTE, porque a gente embarca em cada canoa nesta vida. Um exemplo disto foi ter aceito a tarefa de ser conselheiro de uma turma de terceiro ano na escola, e tudo que veio junto com isto tem me provocado diversas opiniões, controvérsias, polêmicas e experiências em que, não poucas vezes, me sinto um ABOBADO DA ENCHENTE. Ao fim e ao cabo saberei dizer algo melhor e mais razoável sobre tudo isto, logo depois da formatura, torço e imagino.

Por hora o negócio é cantar no meu íntimo aquela velha marchinha de carnaval:

"Rema, rema, rema, remador."

Se a canoa não virar, olê, olê, olá...

eu chego lá....

2 comentários:

  1. Eu bem entendo de enchente,na de 1965 morava no bairro Rio dos Sinos e eu minha mãe meu irmão Hugo,ficamos de boca aberta esperando a água entrar em casa, a velocidade da água era tanta que quase morremos todos afogados.O meu irmão tinha 8 meses e saimos todos na caçamba do caminhão...sujo de argamaça até na avenida Caxias do SUL e de lá para Sapucaia do Sul.A experiencia foi dramatica e jamais vou esquecer. Um quebra costela da boca aberta Liria

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  2. Um abraço Liria...legal que vc achou isto aqui...eu escrevo quase tudo que me vem à cabeça...e este texto fiquei amadurecendo um tempão...porque sempre tentei entender esta expressão...acho que consegui apontar isto...naquela época a encehente foi terrível mesmo....já copnversei sobre isto com o Henrique Prieto que era vereador naquele ano...muita gente perdeu tudo que tinha...mas a expressão ficou...legal teu depoimento...se queiseres escrever mais fique à vontade...é bem vinda...

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