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domingo, 30 de agosto de 2009

CHE: NEM CHÊ, NEM MEIO CHÊ

Eu tenho gasto um bom tempo da minha vida tentando responder na prática o que é ser de esquerda. Todo mundo sabe o que é ser de esquerda, mas na hora de responder ali na prática parece que não é bem assim não. Eu tenho sempre em mente que ser de esquerda envolve três características de base importantes: a verdade e a honestidade das posições, a indignação contra a exploração e a revolta contra qualquer forma de dominação.

Não tem sido fácil. Percebo que nós não somos educados para sermos democráticos e coletivistas. No capitalismo, nossa educação nos dirige a uma tentativa de ter poder e de obter prestígio individual.

Muitos devem passar todos os dias pela encruzilhada entre aquilo que é socialmente justo, eticamente necessário e racionalmente justificado e aquilo que é individualmente interessante, secretamente conveniente e egoísticamente satisfatório. É um verdadeiro desafio enfrentar isto e vencer de consciência limpa sem fazer concessões ao comodismo, ao personalismo e ao gigantesco império das vaidades que domina o ambiente político e social.

Na semana retrasada peguei um Vídeo na locadora - digo um DVD - aquele filme CHE. Assisti ele com os olhos bem abertos e atentos, mas confesso que quase dormi diversas vezes, em parte por causa do sono e de um cansaço que tem aparecido nos últimos dias e de outra parte por causa do ritmo do filme que é um pouco arrastado. Apesar de ser bem dirigido e construído, talvez um roteiro mais dinâmico ajudasse mais do que aqueles flashs para frente e para trás do filme.

Mas é um filme bom e parece ser a primeira parte de uma trilologia que a personagem certamente merece porque - voltando ao tema - conseguiu responder em muitos momentos o que é ser de esquerda para muitos de nós, apesar de ter virado um ícone quase sem conteúdo naquela foto, ficou ao fim e ao cabo como um grande símbolo da luta contra o imperialismo, da luta pela libertação e a melhoria das condições de vida do povo latinoamericano e, também, um dos maiores símbolos do sacrifício da própria vida em prol de uma causa maior, mais impessoal e mais coletiva, na mais infinita estupidez dos seus algozes e na mais infinita estupidez de seus pseudo aliados também. Quem quiser entender estas palavras leia um pouco mais sobre a personagem histórica realem pelo menos três biografias.

O meu primeiro contato com esta personagem foi de certa forma um contato juvenil com uma grande lenda. E olha que eu só fui conhecer aquela foto dele alguns meses depois. A primeira imagem foi de um símbolo de coragem, de rebeldia e de sacrifício. Mais tarde tive contato com alguns panfletos da esquerda internacionalista, alguns textos dele próprio e alguns livros sobre a vida e obra (sic) de Ernesto Guevara de la Sierna. Eu sempre fiquei pensando no personagem como um gigante da história e bem que fiquei surpreso ao ler o Diário da Bolívia em que ele faz um auto-retrato pessoal arrasador quando fala da fome, dos ataques de asma e das fraquezas de seus companheiros de campanha. Encontrei, fazem já uns seis anos, um vídeo filmado em formato espaguetti americano com a campanha da Bolívia e a morte de CHE e suponho que é muito próximo da realidade: um Che esquelético distante daquele revolucionário altivo e desafiador do início dos anos 60.

E eu estava mesmo pensando aqui sobre isso agora: não há nada de esquerda ou de revolucionário na nossa forma de apresentação, no nosso corpo físico ou nos nossos adereços, mas há algo nitidamente de esquerda em algumas atitudes e em alguns princípios que adotamos ao longo da vida.

Um exemplo disto é este hábito chato de não fazer concessões a atitudes egoístas ou mesquinhas, não fazer concessões a certos hábitos burgueses que com frequência aparecem na nossa volta. E no filme aparecem pelo menos três situações em que este caráter de esquerda se mostra com alguma suave e sutil criticidade frente a esperteza e ao impulso individualista de alguns, uma delas é quando Che intercepta um veículo conversível que rumava para Havana com soldados revolucionários na boléia e fuzila: de quem é este carro? e depois de uma explicação comezinha determina que eles voltem para a cidade de onde trouxeram aquele carro e o devolvam para o seu dono e recebe de volta uma exclamação: MAS CHE! respondendo: NEM CHE, NEM MEIO CHE!

O importante deste caso que deve gerar simpatia no público americano médio que tem profundas convicções sobre o valor da propriedade privada e etc, não é o tema do patrimônio, mas sim o tema da disciplina e da importância da tomada de decisão para um sujeito de esquerda. Não dá para fazer o que se bem entende num processo coletivo e também não dá para inventar regras sozinho numa ação coletiva. Suponho que o exército revolucionário não determinou que sejam confiscados os bens dos cidadãos cubanos, nem que eles sejam tomados emprestados para a causa. E é disto que se trata, pois se este ato de improviso vira regra daqui a pouco no processo ocorre um desvio de finalidade na revolução e os revolucionários passam mais tempo cuidando do que querem para si do que cuidando daquilo que querem conquistar para todos.

Em várias circunstãncias da vida a gente se defronta com problemas parecidos com este e temos que reagir sem titubear, sem vacilar de forma integral.

Por isso, se alguém me perguntar - perguntar ao Dani, como muitos me chamam hoje em dia - se sou de esquerda e se aceito determinadas coisas vou responder: Nem Dani, Nem meio Dani! ou melhor no original inventado do filme: Nem Che, nem meio Che! vá lá e faça o que tem que fazer, vá lá e faça como tem que ser feito e não se dobre ao que parece mais fácil, mais interessante e mais confortável.

Boa Luta e veja o filme....

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