Inclusão, diferença e democracia
A educação tem grandes desafios no início do século XXI. Além da universalização do acesso, condicionada pelo financiamento e o bom uso dos recursos públicos, isto é, pelo uso planejado e criterioso destes recursos; além da qualificação do ensino, condicionada pela rediscussão e pelo debate dos currículos, dos métodos, da avaliação e das teorias, é preciso saber viver com novas questões e com o novo que elas nos apontam.
Não são questões de existência recente, o reconhecimento da sua importância é recente e, assim, ainda há algo novo aí. Como toda temática nova esta vem “acompanhada de formulações claras e todas as conseqüências do seu enfrentamento rigoroso são reconhecidas”. Isso envolve, em muitas circunstâncias, uma sucessão de avanços e recuos na implementação de novas políticas que respondem a novos temas. Não se trata aqui de uma discussão sobre qualidade total, eficiência ou eficácia, coerência ou consistência ou, ainda, sobre o bem ou o mal. O diálogo precisa se iniciar de outro ponto.
Os temas relacionados da Inclusão, da Diferença e da Democracia são contrapartidas incongruentes – porque inversas, das realidades excludentes, padronizadoras ou autoritárias. Estes são constitutivos de nova temática pedagógica ainda a ser mais vislumbrada e melhor tratada. A articulação destes temas em uma temática é também sintoma de um novo tempo na educação. Um tempo em que a inclusão se dá em sociedade e não em espaços de isolamento ou confinamento. Um tempo em que a diferença perde a sua pecha exótica ou anômala e passa a ser tratada sem preconceitos. Um tempo em que a democracia não se resume a uma questão de poder ou de espaço de poder, mas sim em um tema novo o da forma de relação entre os homens e as mulheres. Fala-se aqui, portanto, de inclusão social, da legitimidade e da dignidade da diferença e da democracia como um modo de relação, de melhorar as relações humanas e de construir o respeito às diferenças.
Para se chegar a isso muita água passou sob a ponte e muita luta social se deu em prol dos excluídos dos discriminados e dos alijados do processo político e das decisões. Os argumentos para arbitrariedades possuem características comuns: ou é a tradição, ou é a autoridade, ou é a moralidade, ou é a normalidade, ou é a razoabilidade e a competência. A sabedoria (Sofia) curvava-se à irracionalidade como se fosse capaz de ser absoluta. Porque essa disputa era tão difícil de ser vencida? Não é porque a maioria está incluída, não é porque as diferenças são pequenas e não é porque a democracia é uma questão resolvida.
Para concluir, palavras amigas: “tinha que vir um torneiro mecânico para mostrar que inclusão, diferença e democracia são bem mais do que um discurso.” Certamente isso tem uma dimensão global.
Daniel Adams Boeira
Professor de Filosofia
PS.: 31 de março de 2005
Nenhum comentário:
Postar um comentário